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A amante e o porteiro: alexandre costa

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 17 de jul. de 2020
  • 4 min de leitura

Entrei pela janela [na fuga, não percebi o que perdera,] e tentei não fazer barulho, não poderia ser notado sob nenhuma circunstância. [precisava chegar o mais rápido possível ao hotel...]. Foi um dia cansativo, daqueles que nunca esperamos ter, mas que no final nos mostra que somos capazes de nos surpreender.

Peguei o serviço porque gostava do perigo, e parecia fácil no começo, [chegar sem ser visto, e sem ser ouvido, fácil!], mas subestimar as coisas é a minha especialidade. Precisei parar duas vezes no meio do caminho e rever minhas prioridades. [Só não contava com o novo porteiro]. E elas estavam bem definidas, porém, equivocadamente por mim. O serviço me tomou muito tempo porque a situação descrita pelo meu cliente não se comportou da mesma maneira que ele havia me dito que aconteceria, claro, por minha culpa. [E o que aconteceu não me ajudou em nada].

Tudo deveria se passar entre oito e oito e meia da noite [não poderia passar das dez horas ou eu não conseguiria entrar mais] na Rua das Araucárias, número 100, na residência de uma mulher chamada Pholliana. O endereço era de sua amante, e o serviço, simples e fácil consistia em entrar na casa sem ser notado, [mas não sei como, de alguma maneira eu fui visto] pegar sua bolsa e encontrar um papel com uma senha alfanumérica. Fácil, pensei! Eu acabara de invadir uma agência de câmbio só com um alfinete e surrupiar algumas centenas de dólares que encontrei em uma gaveta que esqueceram aberta, então, seria fácil como tomar sopa.

[E de alguma maneira que não entendo as coisas mais simples são as mais difíceis de resolverem]. Às oito horas em ponto ela chegou. Eu a esperava atrás de uma mureta baixa que havia do outro lado da rua. Eu não tinha muito tempo, deveria ser rápido o suficiente. Assim que ela trancou a porta esperei alguns segundos e a vi acender a luz do quarto de cima. [Corri e tentei usar o alfinete na janela]. Usei o alfinete, era só o tempo de um banho, ou eu seria pego no flagra. [Ouvi passos e...]

Pude ouvir o chuveiro.

Subi as escadas e notei que ela havia deixado a bolsa em cima da cama. [eu precisava ser rápido como um raio para não ser notado, mas tropecei...] Achei a carteira e, dentro dela a senha como descrita pelo meu cliente, peguei e corri para baixo a fim de cair fora dali. [Não sei como não vi o tempo passar tão rápido.] Uma senha numérica de oito dígitos. Fácil demais, quase caí na gargalhada. Mas como eu disse subestimar as coisas é a minha especialidade. [Já passava das dez horas e eu corria o risco de dormir na rua mais uma vez.] Na saída percebi um cofre na parede da sala e pensei em abri-lo, dinheiro fácil, pensei! Tentei com o alfinete que quebrou e me furou o dedo. O chuveiro parou e percebi que o banho de Pholliana havia acabado, teria que me esconder e esperar outra oportunidade. [Não haveria outra oportunidade melhor que essa para ganhar a sua amizade, pensei!] Ela desceu e foi até a cozinha, não sei como não me viu. Tentei novamente e nada, ela terminou o que fazia na cozinha e foi pra sala, onde eu estava me abaixei atrás do sofá e comecei a respirar bem devagar para não chamar atenção. [Talvez se eu conversasse, tudo se resolveria e eu poderia enfim ir embora dali e ter minha noite tranquila de sono...]

Ela foi até o quarto novamente e essa era a chance que eu queria. Faria qualquer coisa para abrir o cofre, afinal meu instinto me forçava a fazer isso, e eu não sou de ignorá-los. Não deu tempo. Quando ela voltou, foi até o cofre e digitou uns números e o cofre se abriu, eu quase gritei de satisfação [... quase gritei para que me desse a chance de resolver o meu problema]... cada vez mais fácil, pensei de novo, quando dei um soco no chão. Isso foi o suficiente para ela perceber a minha presença e começar a gritar como uma louca. Eu corri em sua direção, tentei tampar sua boca, caímos no chão e tentei agarrá-la, mas ela me mordeu e correu para o quarto ainda gritando feito uma louca, [... tentei argumentar, mas em vão], eu corri atrás, não a alcancei, ela se fechou e pude escutar o celular, ela ligava para a polícia. Desci, olhei para o cofre, mas escutei as sirenes chegando.

Saí correndo dali.

Pensei que com aquela senha em mãos meu cliente teria acesso ao cofre e me pagaria mais tarde pelo serviço. [Agora estava diante dele, esperando que me ajudasse a terminar bem o meu dia cansativo]. Meu cliente me esperava em seu escritório, e assim que cheguei entreguei o número e recebi meu pagamento. [Ele me olhou, não sei com que intenção, mas com uma nota de cem reais em mãos, mudou de ideia]. Eu então perguntei que senha era aquela tão importante assim. Ele me respondeu que era a senha do wi-fi da casa dela. [Coloquei as mãos no bolso para pegar a chave do meu apartamento e percebi que havia perdido na fuga. Passei pelo novo porteiro, mas acabei dormindo na rua mais uma vez].

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