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Alice: alexandre costa

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 4 de dez. de 2020
  • 2 min de leitura

Eu só acreditava no que os olhos de Alice podiam me dizer. E naquele dia estava lá, estampado em seu rosto com todas as letras para o bom entendedor entender. Por que os olhos de Alice não me enganaram pelo menos daquela vez?

Nunca ouvi sua voz, o que tinha de me dizer, dizia com os olhos.

Olhos pragmáticos. Que maldição.

Olhos que choviam molhando a gola da blusa não eram por ela, mas por mim. E eu entendi que devia me retirar. Então vi seus olhos secarem e o seu brilho apagar. Seu olhar foi se afastando de mim antes mesmo que eu pudesse afastar os meus do dela. E nada restou em mim além de escuridão. Alice se transformou em uma lembrança quando eu já não me lembrava mais de Alice.

Alice se multiplicava e se dividia dentro de mim. Eu não tinha mais em quem acreditar. Nenhum dos olhos que vieram depois de Alice me diziam nada. Olhos sem brilho, sem contexto. Sem pragmatismo.

Como um demônio selvagem correndo dentro de mim, a escuridão só me fazia enxergar Alice. Eu, apesar de tudo, acreditava em seus olhos, eles deveriam me dizer o que fazer. Alice.

Eu estava com ela, mas só eu, ela não estava comigo. Em nenhum de seus desejos havia um desejo maior que o desejo por mim. Só havia, agora, exatamente agora, e não sei por qual motivo, uma pequena chama que não ardia mais. Eu me entreguei à sucessão das coisas e esperei que me levasse pelos caminhos que nunca se cruzassem para estar aqui hoje.

Alice deixou de ser o motivo de tudo, mas seu olhar, apenas o seu olhar me ensinou tudo que eu pude aprender. O fato de tudo mudar ser imutável é a chave para entender o que se passa por trás de cada olhar. Do meu, do seu, dos outros e, até dos de Alice.

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