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El camiño [a pergunta]: alexandre costa

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 17 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Ao sair de casa, bem cedo, ainda escuro, frio, molhado, o caminho era longo, não havia ninguém na rua, nem havia motivo, era muito cedo mesmo, mas tinha de ser feito, o caminho.

Antes na ideia de como seria e agora em sua retina, seguia o caminho indicado, uma grande reta que descia meio íngreme, mas não muito a ponto de lhe apressar a passada, ia tranquilo porque era cedo, tão cedo que só havia motivo para se estar sozinho àquela ocasião.

Passos curtos eliminavam a pressa de se estar mais à frente do que deveria ou desejasse. De terra, o caminho imprimia sua pegada para que todos soubessem de onde vinha e para onde iria. O vento soprava calmo e constante, passava por ele na direção contrária sem conversa. Sério e decidido, o vento não se partia em dois e passava firme por ele, que logo colocou um capuz e levantou a gola do casaco. Via lá no alto, no que se costuma chamar de céu, Vênus e Marte, e por um motivo que só cabe a ele responder, desejava estar lá e não aqui. Aqui, o caminho ainda não terminara. Era longo, monótono, cinza, escuro porque era cedo, e frio, porque era inverno.

O caminho não o distraía, e por ele, em toda sua extensão havia uma pergunta. Tão eloquente e tão simples, a pergunta.

Mas quando se pergunta, a mais simples pergunta, nos tornamos reféns dela por todo o nosso caminho. As perguntas mais fáceis são as mais difíceis de responder.

O caminho o desafiava, sempre íngreme, reto, de terra, de questões intermináveis. Soprava em seus ouvidos, “a volta será difícil, pois subirei com você ao contrário de descer”.

As mãos nos bolsos eliminavam os gestos, anulavam os braços em pêndulo e o tornava um objeto refém da gravidade da terra e dos fatos: ele teria de voltar pelo mesmo caminho e descobrir que tudo tem dois lados, que nada existe sem o propósito de mostrar alguma coisa, mesmo que ela seja uma coisa ruim.

Marte e Vênus, na aparência sem movimento no céu escuro o observavam atentos, enquanto seguia seu caminho de todos os dias.

Ainda era cedo, tão cedo que não havia sombra, porque não havia luz, e por isso, na escuridão, a pergunta gritou: onde você está? Foi quando ele parou e se perguntou se tudo aquilo não seria sonho ou realidade.

Quando vamos nos perguntar onde estamos?, para onde vamos?, o que desejamos?, estamos nesse caminho há quanto tempo?, estamos descendo ou subindo?, quem nos observa tem as respostas ou devemos seguir nossos passos e descobrir que no fim do caminho os dois lados de tudo nos espera, sendo bom ou ruim?

Fica a pergunta.

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