ETIQUETA COLADA NA CAPA
- cafe & outras palavras
- 13 de nov. de 2019
- 2 min de leitura

Olhei para minha carteira de trabalho que estava ao meu lado e vi a última data em que eu fazia parte do mercado de trabalho (era uma etiqueta colada na capa). Ela sempre esteve lá e por algum motivo eu nunca a notei, digo, nunca a notei ao ponto de pensar sobre ela até agora, quando olhei novamente e me dei conta de que estou desempregado há 2 anos e 9 meses. Imediatamente pensei em arrancá-la de lá, e fiz isso com minhas unhas.
Agora sim, ficou apenas a cor azul sem vida daquele documento.
Folheei as páginas amareladas, a minha foto de 30 anos atrás ainda colada na quarta página - cara de garoto sem experiência e sem a noção do que a vida poderia ser.
Todas aquelas anotações de vários empregos, e outras diversas de tantas.
E hoje, depois de quase vinte anos de experiência na minha área, me vejo um completo inútil. Hoje aos cinquenta e cinco anos de idade (idade errada, muito errada para ser demitido), estou preso numa cela chamada desemprego. Ninguém dá emprego para alguém na minha idade por dois motivos: tem gente muito mais jovem fazendo o que eu faço por preço de banana e, estou muito perto da idade de aposentar (na visão do mercado de trabalho) porque todos sabem que não existe mais aposentadoria nesse país.
Duas faculdades e mais alguns cursos que hoje não servem para nada, ou talvez apenas para forrar a gaveta de algum móvel velho.
Nesse país a gente é empurrado e obrigado pelo governo e pelos empresários a morrer mais cedo para a sociedade. Não tá dando lucro? Não dê trabalho. Eles se previnem cancelando a previdência, tirando tudo de você até que se torne um inválido.
E se antes eu e aqueles que estão na mesma situação, éramos chefes, encarregados, técnicos, especialistas, competentes atrás de uma mesa ou na parte operacional de uma empresa (e demitidos na idade errada), somos obrigados a aceitar qualquer coisa. Carregamos placas penduradas no pescoço e aceitamos subempregos apenas para colocar comida dentro de casa. Não temos lazer, não temos nada.
Para finalizar essa crônica, olho para a minha carteira de trabalho e percebo que a mesa onde digito essas palavras no computador, está precisando de um calço.
Comments