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Eu queria que existisse uma maneira diferente de disser isso, mas [...]: alexandre costa

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 29 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Ozeniro chegou à repartição [quarenta minutos adiantado] como de costume, e colocou toda a papelada em ordem antes de tomar o café. Tirou de dentro da mala o ticket e colocou na máquina de expresso que ficava no corredor. Como fazia todos os dias, caminhou em direção à copa a fim de sentar-se no seu lugar preferido.

Entretanto neste dia, como não era usual, encontrou as luzes apagadas e a porta entreaberta, como se alguém houvesse se esquecido de deixá-la aberta ou fechada. Deu aquele giro no calcanhar para ter uma visão geral de todo o prédio e não vendo ninguém da faxina por ali, continuou seu trajeto. Ao chegar já foi empurrando a porta e procurando o interruptor.

Quando as luzes se acenderam, a gritaria foi geral, alguns de seus colegas de trabalho começaram a bater na mesa do café, outros estouraram bexigas, outros sopraram línguas de sogra, confetes voaram na cabeça de Ozeniro, até a faxineira veio abraçá-lo. Mas o mais importante foi quando seu chefe o cumprimentou com um aperto de mão e um forte abraço.

Ozeniro quase derrubou o café com o susto que tomou. Olhou para todos com a cara mais assustada do mundo [cara de quem não estava entendendo absolutamente nada daquilo]!

Não era seu aniversário, seu chefe já havia lhe dito que não teria como lhe dar a promoção que pediu, nem o aumento de salário para compensar tudo isso. Foi quando seu chefe pediu a palavra e o silêncio caiu como uma noite sombria e pesada sobre a copa e todos que estavam nela.

- Ozeniro! ...o chefe começou com o seu nome [o que era raro e que fez com que ele recuasse alguns passos].

- Chefe! ...respondeu ele com um quarto de sorriso, mais três quartos de desconfiança.

- Você sempre foi um funcionário mediano, muitas vezes não entregou o que lhe havia sido pedido, outras vezes faltou ao trabalho sem justificativa, seus colegas sempre reclamaram que você não tinha espírito de equipe e, claro, já roubou da máquina de café.

- Che...che... chefe? Eu nem sei o que dizer... [disse ele e recuou mais alguns passos].

- Não é preciso dizer nada, porque tudo já foi resolvido, e garanto pra você que não haverá mais rusgas entre nós e entre seus colegas de trabalho.

- Claro chefe, colaboração é essencial para o ambiente... [nem terminou a frase e foi interrompido pelo Jorge].

- Cala a boca Oze!

E o chefe continuou seu discurso.

- Eu queria que existisse uma maneira diferente de dizer isso, mas do jeito que eu vou falar é bem mais legal! ...e todos nessa hora voltaram a estourar bexigas, soprar línguas de sogra, bater na mesa, alguns até pularam. E ouviu-se no meio de toda aquela algazarra o grito do chefe!

- Rua Ozeniro, rua, você tá demitido, cai fora daqui, some da nossa frente...

Tenho que deixar registrado aqui que Ozeniro não conseguiu tomar o seu café.

PS. [Em algumas espécies animais quando um dos membros do grupo não se encaixa na rotina diária, eles são sumariamente expulsos do grupo, algumas vezes com violência]. Vide o ser humano como exemplo.

1 comentario


Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
29 jul 2020

Que oximoro o "ser humano como exemplo"!


Roberto Prado

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