Gerthründs og sommerfugleskoven*: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 17 de dez. de 2020
- 4 min de leitura

Dizem as boas línguas que em mil oitocentos e sessenta e dois, Hans Christian Andersen recebeu encomenda de um professor Dinamarquês para contar uma história infanto-juvenil que tivesse grande impacto psicológico no final.
O anônimo homem que lecionava em uma escola importante, queria aplicar o texto do escritor numa nova grade de ensino fundamental de uma classe para jovens. Nesta época Hans já era famoso por dedicar-se a escrever para crianças quando nenhum outro autor se debruçava sobre esta faixa etária.
A história seria contada mais ou menos assim:
Embora o céu naquela noite estivesse estrelado e a lua iluminasse perfeitamente o caminho a frente de GerthrÜnds, a possibilidade de que algo à espreita na floresta Sommerfugls pudesse transformar sua noite em um pesadelo, não estava muito longe de acontecer.
GerthrÜnds conhecia pouco o caminho e só havia passado por lá uma única vez durante o dia e se encantou com as borboletas que haviam no local. Hesitou um pouco em continuar, estava voltando da casa de seus tios, mas ao avistar algumas lepidópteras dormindo nos galhos das árvores, reconheceu imediatamente onde estava e, mesmo sendo nictofóbica, resolveu continuar.
Independente de sua preferência, o caminho era obrigatório na volta para casa. Era, na verdade um caminho estreito, forjado por muitos passantes ao longo de anos, uma trilha bem nítida no chão, mas sempre suja e com muitas folhas, nada que pudesse confundir quem caminhasse por ela a qualquer hora do dia ou da noite. As copas das árvores davam a impressão de que se estava entrando em um túnel, o que para GerthrÜnds com sua condição especial, não era nada agradável. No entanto, não era uma travessia longa e ela esperava terminá-la antes de uma crise, se viesse.
O luar iluminava timidamente esse caminho por algumas aberturas nas copas das árvores e, vez ou outra criava sombras ambíguas com o farfalhar de galhos e arbustos, confundindo e amedrontando quem estivesse de passagem por ali. Parecia mesmo que a floresta tinha vida própria certas vezes, e talvez tivesse mesmo, ou fosse apenas a imaginação dos fracos de espírito.
A cada passo um estalo se ouvia no chão, GerthrÜnds pisava em pequenos galhinhos velhos e podres que caiam durante todo o ano. Uma brisa soprou vinda por trás dela e assoviou de passagem por seus ouvidos uma canção sinistra. De repente ela podia ouvir o bater das asas das borboletas que davam nome a floresta, ou pensou ter ouvido, então parou estática e com medo, seus olhos se arregalaram, ela girou trezentos e sessenta graus nos calcanhares à procura do que havia lhe chamado a atenção. Nada. Continuou a andar e por um momento pensou ter ouvido outros passos atrás dos seus.
A floresta continuava a tentar assustá-la. O vento ficou mais forte de repente e o farfalhar dos galhos se transformou em uma dança bizarra, ela apressou o passo na intenção de sair o mais rápido possível da floresta, estava assustada, com medo, ofegante, arrependida de ter saído tão tarde da casa dos tios.
Anões velhos e encardidos saíram das margens da trilha e pularam em cima de GerthrÜnds, ela tentou se esquivar, tentou correr, mas eles eram muitos e rolavam por cima de seu corpo a empurrando para fora da trilha. Ela sentia suas mãos ásperas tocarem seu rosto, tentava a todo custo livrar-se da horda, mas nada adiantava. Caiu praticamente indefesa e quase sem forças no chão, as borboletas caiam das árvores em cima de seu corpo, ela batia com força em si mesma para tirá-las. Algumas pousaram em seu rosto, ela gritava.
A floresta viva a devorava como fazia com aqueles que não a decifravam, com os que se atreviam a caminhar por ali à noite sem um coração forte. As copas das árvores curvavam-se em sua direção e luz e sombras se alternavam criando um cenário absurdo que a devorava por dentro. O pavor tomava conta de GerthrÜnds, ela se arrastava pela trilha tentando escapar, sua respiração ofegante dificultava seus gritos. Mãos nojentas e carcomidas brotaram da terra e a seguraram pelas pernas na tentativa de prendê-la ali. Rasgaram toda sua roupa na luta que fora travada na tentativa de segurá-la a qualquer custo. Seu sapato fora engolido pela terra e seus pés sangravam enquanto tentava chutar as criaturas espinhentas. O vento aumentara e cantava agora uma canção sinistra e apavorante. Ela jamais escaparia da fúria da floresta. Ela não gritava mais de tão apavorada que estava, começou a sentir falta de ar, tentou escapar pela última vez, mas não conseguiu. Mãos a seguraram e a arrastaram para a escuridão, a terra por debaixo de suas unhas tomavam o lugar de seu sangue e a secavam por dentro. A floresta havia vencido. GerthrÜnds sucumbira pela fúria da noite eterna, sucumbira por não ser forte o suficiente para escapar dos seres estranhos e malignos que habitavam aquele lugar. Ninguém pode imaginar o pavor que foi para ela passar por aquela experiência aterradora, ninguém jamais saberia o porquê ela fora encontrada no dia seguinte sem vida agarrada a um arbusto e presa por um pequeno galho de árvore pelas pernas. Seu rosto estava com uma expressão de pânico e medo e seus olhos arregalados como se ela tivesse visto algo impossível de descrever. Mais estranho ainda é que ela estava com suas roupas intactas e ainda limpas, seus sapatos ainda brilhavam limpos, como estavam enquanto visitava a casa dos tios.
Às vezes vimos e acreditamos em coisas que não existem ou que não estão lá. A mente humana é capaz de tudo e de nada ao mesmo tempo. Ainda que não se saiba por onde caminhar através da escuridão humana, há de se vigiar cada pensamento e cada suspiro da mente.
Hans Cristhian Andersen criaria uma personagem com uma condição especial que a acompanharia por toda a sua vida? Essa condição que também se encontra em muitas outras pessoas hoje em dia e que ainda não foi totalmente entendida pela psicologia seria o fator principal de seu destino cruel? Não sabemos. O que realmente aconteceu com Gertrudes?
O que sabemos é que Hans Cristhian Andersen nunca escreveu essa história.
*Gertrudes e a floresta de borboletas
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