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Joelma abriu o livro na página vinte e quatro: alexandre costa

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 12 de nov. de 2020
  • 2 min de leitura

Joelma abriu o livro na página vinte e quatro de trezentas e setenta e seis, uma borboleta morta há muito tempo, enferrujada, esmagada pela pressão das páginas sobre si, bate as asas e voa por sobre sua cabeça.

Era dez e trina e oito da manhã quando ela fazia isso e o caminhão do lixo deu ré tirando sua atenção. Correu para não perder a oportunidade, havia esquecido disso na noite anterior, e aí outra oportunidade apareceu. Joelma!

O carteiro gritou seu nome, o livro aberto na página vinte e quatro se deslocou dois centímetros e caiu da cadeira, não foi nada, apenas a órbita terrestre dando um olá, e tudo se move parecendo parado. Joelma!

Você não entendeu nada até agora, isso é compreensível, mas para onde teria voado a borboleta enferrujada? Se o caminhão não esperou Joelma, nem o carteiro também, mais uma oportunidade perdida.

Ela seguiu seu extinto e voltou às páginas do livro. Um louva-deus bateu as asas e pousou na borda, olhou fixamente para ela e leu sua mão. Más notícias, outra oportunidade seria perdida. Joelma!

Foi até a sala para verificar se o peixinho dourado não havia pulado do aquário. Essa ela não perdeu, pegou o safado no pulo antes de bater no chão.

Salto mortal. Ele sempre fazia isso.

Joelma saltou por sobre a poltrona como se fosse uma gata, caiu de pé e viu que era uma gata. A borboleta enferrujada voltou e se deitou sobre a página aberta do livro. Que sonho estranho, ela pensou. Sonhou que era uma mulher que sabia ler nas páginas dos livros as maiores histórias de fantasia. Joelma!

Voltou para sua cama aconchegante, bebeu do pires de leite, comeu da ração, deitou e dormiu.

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