Mas que porra é essa?: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 8 de abr. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 10 de abr. de 2020

Ele olhou para cima e viu que uma grande lâmina em forma de lua balançava freneticamente fazendo um pêndulo a um metro acima de seu corpo, depois percebeu a mesa em que estava deitado e amarrado com fortes cordas, de repente percebeu outra coisa preocupante, que o pêndulo não só balançava como também a cada ida e volta de um lado para o outro, descia um pouco mais, cerca de dez centímetros, calculou.
Ele viu um grande salão vazio ao seu redor, viu também que ele era a única presença ali. Não se lembrava nem entendia porque e como estava nessas condições. Mas se lembrou de alguém, não do seu nome nem de sua fisionomia, mas lembrava de alguém, ou sentia que lembrava que necessariamente deveria haver alguém por trás disso tudo, não iria se colocar nessa situação sozinho.
De repente ouviu som de porta se abrindo e passos vindo em sua direção, viu a lâmina abaixar um pouco mais e percebeu o tanto que era óbvio que ela vinha em sua direção. Percebeu que não havia mais som de passos, mas não via mais ninguém ali.
As luzes se apagaram e ele foi coberto pela mais espessa escuridão que já havia presenciado, e ouviu o pêndulo abaixar mais uma pouco.
Chegou a pensar em chamar por esta pessoa que estava no salão junto com ele agora, mas percebeu que só poderia conhecer sua voz e não sua fisionomia devido a escuridão espessa e pesada que o oprimia cada vez mais. E o pêndulo abaixou mais uma vez, agora ele podia sentir o deslocamento do ar que a lâmina fazia ao balançar de um lado para o outro. Ouviu uma voz gutural que vinha de trás dele e que exalava um hálito úmido e enjoativo. Agora os sons da lâmina e da respiração ofegante daquela estranha figura se misturavam e o faziam temer pelo próximo acontecimento.
Tentou se desvencilhar das cordas, mas era impossível, tentou gritar e ouviu seu eco bater nas paredes e voltar em seus ouvidos. Ouviu o pêndulo abaixar mais uma vez e quase pode sentir seu fio tocar as cordas. E ouviu a voz dizer, só falta mais um pouco e tudo estará terminado para você.
Aquela voz estava mais perto agora, acima de sua cabeça a alguns centímetros de seu rosto. O hálito quase o matou antes da lâmina. Mas ele percebeu algo familiar nela que não havia percebido antes. Não a voz em si, mas a maneira como colocava as palavras.
- Se você for inteligente e rápido o suficiente ainda pode sair dessa, vivo - a voz o alertou.
- Quem é você? - gritou e ouviu o eco de seu grito ecoar em todas as direções.
- Se eu disser, a brincadeira não vai fazer sentido – e deu uma risada longa.
- É você Armando? - gritou se debatendo em cima da mesa para escapar do último balanço do pêndulo que cortou a corda, permitindo que ele se jogasse no chão e escapasse com vida daquela armadilha.
As luzes se acenderam e o salão estava cheio. Os colegas de trabalho faziam uma roda em volta da mesa. Uma estagiária segurava um grande bolo nos braços com cinquenta e nove velas acesas, outros estavam com chapéus de festa e línguas de sogra, outros começaram a aplaudir com todo vigor que puderam.
- Feliz aniversário chefe! - Gritaram em coro. - Surpresa!
Armando estava de braços abertos e com um grande sorriso quando ele se virou para ver quem o estava molestando. O amigo de sala estava com uma lata de surströmming nas mãos e um aparelho que modificava a voz em frente a boca. Ele olhou para a mesa onde estava amarrado e viu a corda jogada em cima dela e o pêndulo a cinco centímetros do tampo. Olhou para todos com um espanto indizível e gritou.
- Mas que porra é essa?
Tenso.
Todo Armando arma.
Roberto Prado