Meteoro: alexandre costa

Acorda meu amor, o mundo acaba hoje e ainda não nos arrumamos, onde você colocou minha camisa nova?, e os sapatos?, não, não me peça calma porque, você sabe, eu espero há muito tempo por isso. Eu sei que você também estava esperando esse dia chegar, por isso precisamos nos apressar, não quero chegar atrasado ao evento. Já coloquei combustível no carro sim, eu sei, já verifiquei o óleo e os freios, tá tudo certo, só não quero me atrasar, nem morrer antes da hora.

O que você acha se a gente levar umas cervejas?, água?, que maneira besta de comemorar o fim do mundo. Se não vai sobrar nada mesmo, pra que economizar?

O quê?, não sei onde você colocou seu echarpe, procura na gaveta debaixo, eu estou ocupado agora, vou dar uma engraxada no sapato. Quanto foi mesmo que a empresa te cobrou pra incluir o jantar no camarote? Tudo isso?

E isso é hora de explorar alguém, no dia do fim do mundo? O que eles pensam, que vão levar a grana junto com eles para o inferno? Não quero nem saber, levo lanche de casa mesmo. Tá, eu sei que você não quer morrer com fome, nem eu, mas não vou pagar uma fortuna pra empresa nenhuma.

Dois quilômetros, é, foi isso que eu vi na TV, o meteoro tem dois quilômetros de diâmetro, vai sem impactante, não vai sobrar nada pra contar a história.

Como eu estou? Você está linda como sempre. Espera aí, vou ao banheiro antes. Tudo pronto, vamos. Não esquece de trancar a porta.

Não vejo a hora de ver o mundo acabar junto com você. Olha só como o céu já tá com uma cor diferente. Deve ser daqui umas três ou quatro horas, eu acho, se os cálculos estiverem corretos. Segura aqui pra mim, bebe você, eu não posso agora, tô dirigindo.

O quê? Como assim você quer voltar o ano que vem?