Nem fim e sem começo: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 18 de mar. de 2020
- 2 min de leitura

...quase desmanchou, mas não desmanchou.
Caiu, mas não quebrou nem arranhou, parecia mais que era feito de fumaça, mas cair era uma metáfora e a fumaça um substantivo. E passou pela porta sem olhar para trás. Ela esperou, mas ela não olhou para trás, atravessou a porta, sem antes, tudo virar fumaça.
As relações são instáveis, a relação delas era instável, sem satisfações, queriam satisfações, mas tudo eram metáforas e substantivos, e a gente sabe que tudo é questão verbal, o verbo rasgado que sai pela boca e se sustenta no ar até chegar do outro lado, quase tocando as fronteiras do literal. E o chinês na capa do livro não salvou a vida das duas, nem era uma história que quisessem ler, mas foi presente e aceitaram assim mesmo, o presente, o livro com o chinês na capa, que não as salvariam de nada.
Quase gol, bateu na trave, mas não assistiam a TV, estavam se desmanchando feito fumaça, a TV ligada no jogo, o jogo também não as salvou. E a porta selou a passagem, a metáfora e o literal, a posse do verbo partir. E a música no rádio chamou mais atenção agora, a letra que moeu o coração partido e fez trilha sonora onde não havia romance. E o anormal era o normal se desvelar em crenças e esperanças que já não tinham mais.
No fim, se é que o fim existe, elas esperavam que a verdade das duas fossem iguais, mas não foram. Janela aberta, silhueta na janela, a outra parada, estática, crescendo por dentro, se desmanchando por fora, caindo feito um dublê que não se machuca e nem protagoniza seu grande momento no cinema. Era tudo verdade ou ensaio?
Ela pensou.
O vento soprou a cortina...
Afinal era tudo verdade ou ensaio?
Um primor de texto, nos leva mais que a pensar, nos joga dentro da situação.
Tenso.
R. Fedler, esse seu leitor fiel.