O gato subiu no telhado: alexandre costa

O gato subiu no telhado porque era mais fácil observar de lá a horta da Dona Rose. As alfaces americanas, os tomates italianos, as batatas inglesas. Ele sabe da maneira como os gatos sabem, que tudo que se planta na horta é consumido pela família da Dona Rose, e que as sobras são divididas entre os felinos da casa. Lá de cima ele toma conta da horta e evita que algum predador de verduras e legumes destrua sua fonte inestimável de alimento.

Ele sabe, por exemplo, que Dona Rose acorda bem cedo para regar a horta e verificar o que está maduro para o consumo no dia. Ele vê Dona Rose escolher os melhores frutos da terra, a hortaliça mais suculenta, o tubérculo mais ‘charmoso’ esparramado pela pelo chão, [um buquê] extraordinário e suculento. Com os olhos ele também escolhe seus preferidos e torce para que também seja os de Dona Rose.

Lá do telhado, banhado pelo sol morno da manhã, ele se espreguiça e se dá conta de que Valdir [o galo do vizinho], ainda está dormindo, então percebe a entrada sorrateira do teiú que não mede esforços para roubar seus ovos do café da manhã. Ele mia auto e pula em direção ao galinheiro do vizinho tentando espantar o invasor. Valdir acorda assustado e grita para que todos saibam quem manda no galinheiro. O teiú, assustado com o ‘pulo do gato’ e ‘o grito’ do galo, foge me disparada por um buraco na cerca que o compadre Ernesto não arruma de preguiçoso.

Ao mesmo tempo em que tudo isso acontece, ele vê Dona Rose se assustar com tudo e deixar cair sobre seus pés algumas batatas e cenouras, acabadas de ser colhidas para o almoço de logo mais. Ele se vira e vê Dona Rose abaixada recolhendo as verduras e sai em disparada, para em frente a ela como se fosse ajudar, mas gatos são gatos, não ajudantes. Ele lambe as patas, sobe nas costas de Dona Rose, dá um impulso até o muro atrás dela e volta pro telhado.

De lá, vê Valdir se engraçando com uma das galinhas de angola do Seu Ernesto!

Dedicado à Rose Tayra e sua horta.