O homem de chapéu coco: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 5 de out. de 2020
- 3 min de leitura

O homem de chapéu coco está parado do outro lado da rua; ele observa você já faz tempo, mas você não havia percebido isso até este momento; o homem não se move, ele está de óculos escuros e você não pode ver para onde ele olha, mas mesmo assim você sabe que ele observa seus movimentos.
O semáforo fica verde e você atravessa em direção ao homem, ele continua parado feito uma estátua apoiado em sua bengala, várias pessoas atravessam em direção contrária a sua, a rua está lotada e a faixa de pedestres parece desaparecer debaixo dos pés de toda aquela gente, você se distrai. Então você está do outro lado da rua e o homem com chapéu coco não está mais lá; você olha para os lados, em todas as direções agora, você olha para trás e o homem está do outro lado da rua, parado observando você; ele está sem a bengala agora. Você sente que sua mão esquerda segura alguma coisa, é a bengala do homem; você não entende nada e percebe uma pequena pressão em sua cabeça, é o chapéu coco. Tudo parece mais escuro quando as luzes do dia atravessam seus óculos de sol. Do outro lado da rua você, de chapéu coco, óculos escuros e bengala observa um homem simples que vai atravessar a rua, você não faz movimento algum, permanece parado apoiado na bengala, mas ele sabe que você observa seus movimentos; você atravessa a rua em meio à multidão, a faixa de pedestres parece desaparecer debaixo dos pés de todas aquela gente; você precisa agir rápido. De repente você está parado no meio fio da calçada à espera do sinal verde, você ainda não percebeu o homem de chapéu coco do outro lado da rua, ele está te observando, ele precisa ser rápido o bastante para que você não perceba; você vê o homem e sabe que ele observa você; o sinal fica verde e você não sabe por que está atravessando a rua em direção ao homem de chapéu coco; ele permanece parado apoiado em sua bengala, você olha para baixo, não quer continuar a ver aquele homem, a faixa de pedestres parece desaparecer debaixo dos pés de toda aquela gente. Você se distrai. Você não foi rápido o bastante. Você vê você do outro lado da rua que vê você de chapéu coco observando você, mas você não sabe por que quer atravessar a rua em direção ao homem de chapéu coco; você agiu rápido assim que o sinal ficou verde e atravessa antes que você atravesse para o outro lado; você não vê mais o homem de chapéu coco do outro lado da rua, você olha para todos os lados, olha para trás, a faixa de pedestres parece desaparecer debaixo dos pés da multidão, você para do outro lado, no meio fio da calçada; você está de chapéu coco, bengala e óculos escuros e observa a multidão que atravessa de um lado para o outro. No meio de toda aquela gente, a faixa de pedestres parece desaparecer, e você percebe que a multidão tem o seu rosto, e você vê você observando você observando o homem de chapéu coco do outro lado da rua, mas você não liga para isso, você só quer atravessar e chegar ao outro lado. Então de repente você entende tudo.
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