Os dias [uma reflexão baseada em 100 dias de isolamento]: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 6 de jul. de 2020
- 2 min de leitura

Os dias se vão, dão voltas imensas e se fazem de difícil, nunca terminam, e quando terminam, fazem sob o disfarce de um alento que nunca vem. Na verdade os dias não vêm nem vão. Os dias não existem, assim como o relógio não marca o tempo, mas uma convenção, um período curto dividido em doze partes iguais.
A lista do que é uma ilusão só aumenta: o tempo, a verdade, os dias, as voltas que marcam os aniversários, a divindade unânime que todos devem adorar.
O homem adora e se engana, disfarça e trai a si próprio; vive entre os odiosos e os estoicos sem se dar conta de que os dias roubam cada segundo de suas vidas, mesmo que eles não existam fisicamente.
O Sol nunca nasceu no horizonte, a lua nunca se banhou no mar ao cair da noite, porque a noite é só um disfarce que o dia usa para se esconder dos homens.
Dentro da caverna, as sombras se multiplicam e dão a noção para quem está dentro de que o lado de fora vive em algazarra. Talvez seja isso mesmo, talvez nem exista a caverna, pois tudo é ilusão nos dias que vem em vão.
Quase descobri o sentido da vida outro dia olhando para o teto da cozinha. Percebi que a porta é quem divide o mundo em duas partes: o de dentro e o de fora.
Nada mais me fascina nesses dias difíceis, nessas horas arrastadas, no corpo que envelhece, no cabelo que cresce, nas voltas que a Terra dá sem ficar tonta de tanto girar.
Cem dias de solidão. Alguém me marca nessa hashtag, porque o Gabriel acaba de abrir os olhos e me desejar sorte.
Acabarei meus “dias” assim?
Desses cem dias, o pior é esse vento quento que desfolhas as amendoeiras...
Que as formigas nos levem e nos redima!
Mandou bem Magrão!
Abraços.
Roberto Prado
Antes cem dias que cem anos!
R. Fedler