Paquita: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 21 de mar. de 2020
- 4 min de leitura

Ela se aproximava e se afastava de seu rosto a cada meio segundo num movimento de vai e vem, vista de baixo para cima era perfeita no jeito e na atitude, seus olhos de jabuticaba eram enormes e seu sorriso não era forçado a ponto de se perceber, seu corpo era macio e exalava um leve aroma de lavanda, o que não chegava a desagradar Luiz, mas também não era seu favorito.
Ele permanecia rígido de pernas esticadas até o pé da cama e suas mãos a seguravam pela cintura enquanto ela se dedicava ao máximo em seu trabalho diário.
- Está tudo bem?, – ela perguntou entre o movimento de sobe e desce, com a voz um pouco cansada. – Quer trocar de lugar comigo?
Luiz disse que estava tudo bem contanto que ela continuasse na mesma posição, fazendo bem o que estava fazendo, porque de alguma maneira estava dando certo.
- Então, tá...é você quem manda. – Concordou e continuou, aumentando os movimentos e soltando alguns gritinhos de vez em quando. – Você não quer conversar, né?, - perguntou de novo.
Só o que Luiz conseguia pensar era que não estava afim de conversar e que nem ela deveria conversar também porque, a final de contas, o sexo para ser bem feito tem que ser como um jogo onde os dois lados sabem perfeitamente o que o outro gosta e quer, mas naquele momento esse pensamento que Luiz tomou para si o fez lembrar de sua vida pouco feliz e vitoriosa. Afinal o que estava fazendo que não fosse tentar esquecer de todas as suas mazelas?
Não disse nada, fez de conta que sorriu com o canto da boca e soltou um gemido tão falso que nem ele mesmo acreditou que tenha saído de si mesmo.
- Vamos trocar, eu estou cansada. – Reclamou.
Vista de trás, a bunda de Ana formava um coração invertido de carne macia e branca, uma carne firme que se chocava contra o púbis de Luiz num movimento de vai e vem que o deixava quase enlouquecido. E ele travou aquela batalha várias vezes agarrando seu oponente por trás e lhe enfiando a adaga firme em suas costas, por entre as pernas, agarrando seu peito com firmeza e truculência, era um jogo feroz e sensual que travava com prazer e destreza. Ele a subjugava, ela se entregava sempre, porque esse era o grande prazer dos dois. E como um flash que cegou seu olhos ele se viu perplexo diante de Paquita como se tivesse despertado de um sonho acordado, e se viu segurando sua cintura com força, penetrando sua carne com destreza e indiferença. Soltava gemidos fortes, sacudia a cama, puxava seus cabelos, esquecia de uma vez por todas quem era e porque estava ali. Paquita, ansiosa, se limitava a aguentar as investidas e esperar a hora do gozo final.
- Você já vai terminar?, vai gozar? – mais pedia do que perguntava.
Luiz estava entorpecido pela adrenalina, seu rosto branco, quase de um albino ficara vermelho, o suor descia pela testa até a boca e ele soprava com força, suas mãos e todo seu corpo tremiam e suavam. Latejava em sua mente a vontade de ser o alfa daquela relação, o dono da situação, o senhor dos escravos esquecidos, o herói que termina sua jornada exausto mas com o prêmio nas mãos.
Visto por cima dos ombros quando se está de quatro e se vira para trás, ela o via como um lobo feroz, um lobo que sorria e gritava e gemia e dançava conforme o seu próprio movimento, a fêmea que se deixa ser pega.
- Não para. – Ela gritou e sorriu olhando em seus olhos. Ele estremeceu.
Num golpe final e derradeiro, o rei, o grande cavaleiro, o toureiro que venceu o touro, Luiz solta seu último grito, o grito que enche Paquita por dentro, que seca a boca, que transforma o riso em lágrima, que mata o corpo e aquieta a alma.
Ele está satisfeito e deita ao lado de sua presa cansado e pleno. Ela está satisfeita e recebe sua recompensa do dia e sorri como se não quisesse fazer isso.
Vista por trás, de pé ao lado da cama, ele vê suas curvas perfeitas, sua pele branca e brilhante, acompanha com os olhos a linha perfeita de seu corpo da cabeça aos pés, de como seu calcanhar lembrava o calcanhar de Ana, e se lembra de sua esposa e de como eram felizes antes do acidente fatal que a tirou dele um ano atrás, e então ele vê Paquita abrir a porta e ir embora feito uma imagem que vai ficando borrada até não ter mais forma, e levanta-se e lembra de não poder estar com sua falecida esposa. Sua vida continuava apesar de não fazer sentido estar vivo. Um pensamento lhe ocorreu que talvez fizesse sentido agora como nunca fez antes e que o tiraria de sua realidade dolorosa e vazia. Como o súdito do rei, como a vítima do cavaleiro, como o vencido pelo toureiro, Luiz travou sua última batalha, deu fim à sua existência, porque nada mais faria sentido depois daquele dia.
Rapaz, que santo baixou em vc?
Continue.
Roberto Prado