Pedro e o universo: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 9 de set. de 2020
- 2 min de leitura

O que lhes conto agora é uma história e um fato verídico dentro destas linhas que virão. É um encontro entre a possibilidade e a verdade crua e nua onde todos nós habitamos física e mentalmente. Nada mais há de fantástico e misterioso do que a mente humana e aonde ela pode nos levar, mesmo que não demos um passo sequer. A partir de agora você vai mergulhar num universo muito particular, o universo de um homem simples e sem pretensões, um universo onde as margens são bem definidas pela própria condição de seu protagonista. Sinta o chão onde ele pisa, sinta o aroma do verde que envolve seu caminho matinal, veja as cores que ele vê e entenda - como ele entende- a importância que um pensamento pode ter. Em nove de setembro de mil novecentos e quarenta e seis, um dia cinzento e frio para a época, e que obrigava as pessoas a usar casacos e meias nos pés, Pedro Feliciano, um homem simples, trabalhador honesto e dedicado, funcionário de confiança na repartição onde estava lotado há mais de vinte anos, sem nenhuma advertência devo dizer, e que estava a poucos dias de tirar sua licença prêmio tanto esperada, atravessava a Rua das Flores em direção à padaria dos Imigrantes, cujo dono era um francês de sotaque carregado chamado Alexi Ocon, onde habitualmente tomava seu café da manhã todos os dias a partir das cinco e meia e que ficava a mais ou menos quinhentos metros de sua casa, bem na esquina da Rua Vitória com a Nova Conquista, caminho que ele fazia questão de ir a pé porque lhe dava prazer andar e, mais prazer ainda, desfrutar da grande alameda arborizada que corria por uns trezentos metros de matizes e aromas diversos antes de terminar na Avenida da Sinagoga e que dava um sentido poético a sua caminhada, quando lhe passou pela cabeça entre uma guia e outra da rua, que o universo por mais caótico e aleatório que fosse, deveria ter em sua constituição algo que fizesse sentido. No entanto quando chegou à outra margem da Rua das Flores, esse pensamento rapidamente se dissipou.
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