Perfeição: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 26 de abr. de 2020
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Cruzei a praça em direção à rua quando a vi passar, dissimulando, não a mim, mas o tempo. Por que não envelhecera? - pensei.
Ela me olhou de volta, sorriu e naquele momento, naquele exato momento, deixei transbordar nossa última lembrança adolescente. Foi quando tive a intenção de parar o tempo, mas ele não parou. Lá, do outro lado da calçada, ela me percebeu e atravessou a rua em minha direção. Quis mudar tudo que havia vivido até aquele instante e voltar para o dia que nos conhecemos, mas há coisas que não se pode mudar porque elas são controladas pelo tempo, e o tempo só caminha para frente, por isso, aquilo que tentamos desesperadamente paralisar, fotografamos e guardamos.
Algumas lembranças, são tão incrivelmente microscópicas que pertencem apenas ao universo de duas pessoas, e no céu há espaço demais, não podemos guardar as coisas lá, por isso guardamos em gavetas.
Seus braços contornaram meus ombros e seu corpo inteiro tocou o meu num abraço apertado e perfeito. Ficamos ali infinitos milésimos de segundos trocando o calor que tínhamos por dentro, dissipando sorrisos e pura satisfação.
O tempo, o espaço, a distância, eram conceitos, vírgulas frágeis em uma equação imperfeita em nossas mentes débeis. Não, o tempo não voltou, nem parou.
Eu te amo, boa noite, eram agora dois ponteiros na direção do incomunicável, e tudo que tínhamos agora era essa bolha de prazer que envolvia toda a praça com o nosso consentimento.
Não podíamos reviver o que éramos antes, pois o antes não se repete, não re-acontece sob o pretexto da alegria ou da necessidade, sob a lei do retorno, dentro de uma máquina do tempo. Estávamos lá no aqui e no agora e era tudo diferente e melhor. Entramos numa cafeteria e o resto da tarde valeu o dia.
Cronos é um pai terrível. Mas vejo que você é um sujeito bafejado pela boa sorte. Poucos reveen um grande amor com tanta felicidade...
Aposto que você nem se preocupou com a qualidade do café...
Roberto Prado.