Picrato de Butesin: rose tayra

O livro estava em cima da mesa de jantar.

Ele havia estado nos últimos dias, como acompanhante assíduo dos olhos de meu esposo.

Já era noite, enquanto ele assistia um filme qualquer na tv, descompromissadamente peguei o livro e comecei a lê-lo sem muita concentração, até por estar com o som da tv ao fundo.

Como já aconteceu, em alguns inícios de livros, só conseguia visualizar imagens desconectas não tendo a certeza se começava por um sonho, citação de um texto, quem sabe a cena de um filme ou lembranças do personagem; enfim, as estruturas de compreensão ainda estavam em movimento.

Na imensidão da penumbra da imaginação mergulhei.

Apesar também, de algumas palavras serem ainda indecifradas para mim, insisti, e meu olhar agora, se encontra e conforta-se com a claridade da palavra Picrato de Butesin.

Essa claridade vem da janela da cozinha da padaria, que faz o pano de fundo da cena gravada em minha memória...

Mineiro, como chamávamos nosso amigo Henrique, vinha preparar o almoço de domingo, para servirmos na padaria.

Num certo dia, a ajudante que contratamos para auxiliá-lo na cozinha, sofreu uma queimadura.

Ele na época, engenheiro de profissão, porém eterno cozinheiro por vocação dominava, além das receitas, também o lado funcional da cozinha industrial, tranquilizando-nos sobre o percalço.

Orientou a moça, passar uma pomada, que ela relatou depois ,ter-lhe tirado toda ardência, instantaneamente como se fosse uma fórmula mágica.

Hoje, o Henrique mora na memória e até hoje presente na gaveta, a pomada Picratro de Butesin.