Naquele ano, Catarina nossa vizinha, reuniu algumas meninas para formar um grupo de carnaval.
O nosso bairro, Saboó, era privilegiado nesse quesito Carnaval, pois tínhamos o Clube Bandeirantes e também era montado o tablado da prefeitura, com direito a visita das realezas, o rei momo e a rainha do carnaval.
Os sambistas que tocavam, eram também formados por pessoas que ali moravam.
Seu Sílvio, que trabalhava na prefeitura, com seu filho e sobrinhos, foram anos mais tarde, responsáveis pela bateria da escola de samba Unidos da Zona Noroeste.
Nossa fantasia foi inspirada na personagem “Sininho”, a fadinha.
De cor lilás, com algumas pequenas estampas, formada por um bustiê feito todo com lastec e a saia com recortes pontiagudos e em cada ponta chacoalhava um pequeno guizo.
Semanas antes, Catarina levou-nos em uma casa especializada no centro da cidade, para comprar-nos o tecido e os demais apetrechos para nossa fantasia.
Até hoje ainda, consigo sentir o cheiro das peças do tecido da loja.
O que ficou na memória também foi o cafezinho, que a loja oferecia, e Catarina pediu para adicionar um pouco de água fria...
Chegado o Carnaval, brincamos todas as matinês.
Na terça feira, dona Carmem, mãe de Catarina, e avó de algumas meninas integrantes do grupo, combinou de levar-nos para comer pizza, para fechar o carnaval.
Fomos em um restaurante na Praça dos Andradas.
Antecedendo o passeio, somada às recomendações naturais, veio em nós uma sutil sensação de temor, só de pensar na possibilidade de passarmos da meia-noite e virar a “Quarta - feira de cinzas.”
Acreditávamos que poderia nascer rabo e outras coisas mais, que nem suportávamos imaginar.
E era a primeira vez, também, que juntas sairíamos para um local social.
Já no restaurante, toda essa energia contida e represada explodiu, quando uma das meninas foi espetar uma azeitona com o garfo e ela pulou do prato e rolou pelo chão.
Bons tempos em que ainda tínhamos respeito por alguma coisa, e medo dessa coisa...
Ok, nos envelhecemos, mas quando foi que mudamos de planeta?