Um café para Luize: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 14 de jul. de 2020
- 1 min de leitura

Chegamos cedo como de costume, e sentamos à mesma mesa de sempre, como de costume, e como de costume ela chegou depois, sim, ela sempre chegava depois porque sabia que no momento que entrasse naquele café, eu e Jack colocaríamos os olhos nela como quem cola um selo numa carta – decididamente e maliciosamente- aquela lambida despretensiosa nunca havia passado pela nossa cabeça que seria um ato quase sexual com um pedaço de papel tão insignificante.
Ela sabia, e por saber, transformava a distância da porta até a mesa na sua passarela, e as luzes que iluminavam solitariamente cada mesa dava o tom perfeito para que eu e Jack nos transportássemos para um filme noir. Era simplesmente espetacular quando ela chegava. Ah!...o café, quem se lembrava dele agora?
Ela sentou bem devagar, como de costume e sorriu como fazia sempre. Eu e Jack parecíamos duas crianças ganhando o maior presente do mundo.
A moça do café chegava como de costume com os três expressos puros na bandeja, primeiro o de Luize, depois o meu e então o de Jack. Nós dois não bebíamos o café imediatamente, ficávamos admirando Luize tomar o seu, colocar o açúcar mascavo, mexer e levar a xícara até seus lábios vermelhos, só depois, depois do transe de vê-la sorver seu café, tomávamos o nosso.
E como de costume amanhã será outro dia igual a esse. Eu e Jack sonhamos que um dia ela vai sentar a nossa mesa e tomaremos um café a três. Até lá, sonhar não custa nada.
Comments