Um dia de sol como este: alexandre costa
- cafe & outras palavras
- 22 de nov. de 2019
- 2 min de leitura

Um dia de sol como este, quarenta graus à sombra, os crânios fervendo, o cérebro cozinhando como uma noz dentro da casca, trabalhadores de rua colhendo o lixo, técnicos trocando cabeamento de internet nos postes da cidade, outros quebrando o asfalto pra tapar buracos. O suor escorre por todo o corpo e encharca as botas e as meias, caem nos olhos e ardem como pimenta, os moradores de rua fedem sem ter como tomar um banho, os caminhões espalham a terra e a poeira que não sossega no chão, pedestres de um lado para o outro buscando sombra nos menores espaços possíveis, motoristas de ônibus cozinhando ao volante, estressante rotina diária de tudo e todos.
Um dia de sol como este à beira do mar, feito piscina sem ondas convida os que estão de férias a se divertir, mas os ambulantes fritam ao sol vendendo bebidas, comidas e bugigangas para levar alguns trocados para casa. E tudo se repete dia após dia no decorrer de meses e anos e décadas e séculos - a monotonia ensolarada da vida de cada um - sem perceber que é a vida de todos e de tudo que existe e que às vezes não faz sentido algum.
Um dia de sol como este só me faz desejar a chuva que lava e limpa a alma cansada da monotonia diária da vida humana, me faz querer um café quente e uma cama limpa e suave, pra que possa esquecer por alguns minutos que a vida lá fora vai me devorar amanhã, que todos praticam o egoísmo e o “umbiguismo”, acreditando que são os únicos sofredores e os únicos merecedores de uma condição melhor de existência.
Num dia de sol como este, prefiro estar aqui nesta crônica do que lá fora derretendo feito uma vela inútil acesa ao meio dia.
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