Um passo adiante: alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 28 de out. de 2020
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Um passo adiante gritou o capitão Bonjour e a prancha balançou com o peso de seu corpo. Caminhe até a borda famigerado ladrão de enchovas.
O mar subia e descia com a força de um Kraken. Não só ele, mas toda a tripulação estava enjoada com o balé das ondas sob o casco do navio. Suas mãos e pés amarrados não o deixavam equilibrar-se direito na prancha, o que também não colaborava para isso era o fato do imediato estar a todo o momento estocando a espada em suas costas para apressá-lo.
O sol castigava o mais forte dos homens no navio, o que significa para ele um infernal e quase insuportável calor, mas o que era isso diante do fato de estar prestes a ser devorado por tubarões?
O capitão deu a ordem mais uma vez, mais uma vez o imediato cutucou a espada em suas costas. Seus passos curtos estavam limitados à corda amarrada em seus tornozelos. Quanto mais se aproximava da borda da prancha, mais ela balançava com o seu peso e desequilíbrio. A tripulação em coro gritava ladrão e socavam o ar pedindo que pulasse.
Ele tentou argumentar por sua vida explicando que roubou porque estava com fome, mas todos no navio estavam.
O capitão Bonjour riu-se de doer as costas, o imediato caiu de joelhos de tanto achar graça, a tripulação ria porque ria o capitão e ria o carrasco, e por mais algum motivo que eles não sabiam o porquê.
Seus argumentos de nada adiantaram, sua defesa era frágil e inconsistente, ele não teve perdão.
Um passo adiante gritou pela última vez o capitão Bonjour, e pela última vez o imediato cutucou-o nas costas, e pela última vez ele caminhou pela prancha até não sentir mais a madeira sob seus pés. A gravidade o empurrou para baixo com toda força e ele mergulhou na água gelada do Atlântico pela última vez.
Chamem o cozinheiro agora, quero um banquete para comemorar a morte de um ladrão. O ladrão era o cozinheiro, capitão – avisou o imediato.
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