une nuit à paris; alexandre costa
- Cafe e outras Palavras
- 29 de out. de 2020
- 3 min de leitura

Atravessando o rio Sena pela pont de l’Archevêché chego à Catedral de Notre Dame. Sophie está me esperando no altar, eu sei, mas paro uns minutos em frente a Fontaine de La Vierge para admirar o lugar, será a última vez que eu o verei. Sei que Sophie está ansiosa a minha espera, mas quer saber?, não tenho pressa de chegar.
Atravesso a rue Du Cloitre Notre-Dame em direção ao Le Petits Frèves des Pauvres. Admiro as ruas estreitas e o design que enche os olhos, penso que não há lugar melhor para se estar. A catedral e as pessoas que me esperavam vão ficando para trás, mas antes de sair definitivamente daquela cena, olho para a catedral e sua arquitetura gótica francesa, imensas torres em direção ao céu. Eu me pergunto se não seria mais vantajoso sair pela noite em Paris e esquecer o que o destino me aprontou.
Continuo em frente pela rue Chanoinesse, passo pela Compagnies Motocyclistes de Paris, o Bougurena está fechado e desisto de tentar comer alguma coisa. Decido parar no Locappart Chanoinesse. Um amigo esteve aqui há alguns anos e me indicou o local dizendo que era um ótimo descanso com um bom preço. Passe a noite aqui quando estiver em Notre Dame, o preço é bom, ele me disse. E assim eu o fiz.
Na recepção me indicaram um bom lugar para comer, o La Chaumière logo depois da pont Saint-Louis, pois estava aberto àquela hora.
Penso em Sophie e em todos os convidados a minha espera. Deve ser angustiante não saber. Eles não sabem.
Imagino que Sophie está chorando nos braços dos pais e dos padrinhos, que os convidados estão desesperados atrás de mim, que outros estão me desejando a morte, mas a noite em Paris não pode esperar. Como resistir?
Chego ao restaurante e me sento ao lado da janela para admirar a vista noturna iluminada, proporcionando uma bela visão da rua lá fora. O garçom Alexis me atende e peço o mais caro, não tenho por que economizar hoje. Ouço sirenes pelas ruas e imagino que colocaram a Police atrás de mim.
Penso mais uma vez no casamento e chego à conclusão de que eu não era tão importante assim para a cerimônia, mas posso estar enganado.
Depois do jantar me levanto e pergunto para Alexis onde tomar um bom café.
- Aller au Cafe Med – me responde apontando naquela direção. – Merci – respondo e deixo uma gorjeta generosa com ele.
Especialmente naquele dia o Cafe Med estava aberto até mais tarde e pude saborear um cappuccino. Incrível como até um poste se parece com um objeto de arte em Paris. Aquela seria a minha noite perfeita sem Sophie, sem Albert, sem casamento.
Acho que não falei ainda sobre o noivo. Albert era meu amigo de infância, mas nos separamos há alguns anos quando ele veio trabalhar na Citroen de Paris.
Tanto a catedral quanto o restaurante e o café ficam em duas pequenas ilhas no rio Sena, eu estava na menor quando alguns convidados e Albert me encontraram em frente à Boulangerie Saint Louis tentando comprar um legítimo pão francês.
- Você é louco? – Albert gritou ao me ver. Pourquoi as-tu disparu avec lês anneaux?
Eu não entendi nenhuma palavra do que ele disse, mas desconfiei que havia alguma coisa que era de minha responsabilidade,
- Fique aqui se quiser, mas me devolva as alianças. – colocou a mão no bolso do meu paletó e as arrancou de lá.
Dias antes do casamento ele havia me convidado para carregar as alianças até o altar e entregá-las a ele, fazia parte do ritual, do jeito que eles queriam que fosse. Nada como um amigo de infância para fazer isso. Infelizmente Albert não me conhecia tão bem assim, mas descobriu da pior maneira que eu não era de confiança. Meu destino era Paris e somente Paris àquela noite. Com certeza ele vai encontrar alguém da família que possa carregar as alianças.
Entraram no carro e dirigiram até sumirem da minha vista. Eu fiquei ali, sentado em frente à Ferme Saint-Aubin, pensando em comprar um queijo e um vinho para brindar minha primeira e última noite em Paris.
Ufaaa...até certo ponto pensei ser o noivo.
Rose Tayra
O personagem desfrutou de Paris mais que eu, que lá estive três vezes...
Miserável...
Roberto Prado.