A canção de encerramento da trilogia: Roberto Feliciano
- cafe & outras palavras
- 23 de set. de 2019
- 2 min de leitura
A parte 1 é Trident de Menta

Depois de tanto tempo você ainda mexe no cabelo com sua característica despretensão fingido e pergunta se está bonita. E mesmo que eu sempre responda cantarolando baixinho “oh, my darling, you were wonderful tonight”, você não acredita. Ou finge que não acredita. Assim como nunca acreditou que eu estivesse sempre a apenas quinze minutos de distância de você. Eu dizia que por mais que uma noite inteira nos separasse ou que um fim de semana sempre tedioso colocasse um universo inteiro entre nós, eu sempre chegaria com meus olhos pequenos para serem engolidos pelos seus, gigantes, em quinze minutos. Ainda que você estivesse em outra cidade. Ainda que você se recusasse a me receber. Você ria, me chamava de idiota, porque você nunca aceitou ou acreditou no que eu sinto por você. Porque? Sei lá, porra! Essa parte da tua personalidade eu nunca entendi. Eu apenas aprendi a conviver com tudo isso aí. Pacote completo, eu dizia. Mas nas vezes em que você dormia no meu apartamento, com a minha camiseta do Eric Clapton servindo como seu pijama, você se desarmava por alguns minutos depois de acordar. E perguntava com voz de travesseiro porque só eu no mundo ainda tinha rádio-relógio. Em São Paulo, oito horas. Repita. Oito horas. E eu pensava naquele primeiro beijo toda vez que te via acordar. A gente tentando decidir qual lugar era ou não digno pra esse momento tão especial e aposto que se eu te perguntar agora você nem lembra da casa de muro baixo, da ração pro cachorro, da minha camiseta preta que dizia surf life e fazia você rir. E eu ria também, porque quando você ri... Sabe, ontem a noite o Theo esteve aqui. Falou um monte de besteira sobre investimentos e sobre como agora que eu tenho um emprego novo eu devia guardar uma parte da grana pra pensar no meu futuro, no nosso futuro, no futuro dos filhos que você nem quer ter. Não, não te acordei porque sei que você se sente intimidada por ele e você tinha bebido muito vinho e quando isso acontece você acorda enfurecida e eu só posso conversar com você quando for lá pras onze horas. Repita. Onze horas. Eu só sei que seu humor melhorou e eu posso voltar a pisar com tranquilidade nessa trilha quando você coloca um chiclete na boca e começa a tirar sarro de absolutamente qualquer coisa que seja sobre mim. E por mais que eu não suporte Trident de canela, eu sempre vou me lembrar que em sua boca ele assume o melhor dos sabores.
Pqp.
Ok?
Pqp!