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Felicidade partindo: roberto feliciano

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 25 de nov. de 2019
  • 2 min de leitura


"Ai de quem não rasga o coração,

Esse não vai ter perdão"


- Então, é isso?

- Acho que sim. O trem deve estar chegando.

- Eu nunca...

- Não. Para.

- É que sei lá.

- É. Eu sei. É uma situação bem "sei lá mesmo"

- Não, porra. Eu só não queria ter que ir embora. Não assim, não de vez.

- Você não tá indo embora de vez.

- Não. Para.

- Sério. Você vai. Vai ficar um tempo lá, vai se firmar. Andar com as próprias pernas.

- Odeio quando você me trata como se eu fosse criança.

Observou e ignorou sua boca falar, continuando seu raciocínio:

- E depois que estiver tudo bem consolidado, bem firme, você volta. Aqui sempre vai ser seu lugar.

- Você acredita em metade do que você tá dizendo?

- Se não acreditasse, não estaria dizendo.

- Eu vou, vou andar com as minhas próprias pernas, me consolidar, crescer, conquistar, bem aquela coisa vim, vi e venci. Essa merda toda. E daí? Você, do alto de sua sabedoria de quinta, consegue responder o mais importante. O "e daí?"

- O "e daí" só importa pra você.

- Lá vem você de novo;

- Olha pra mim.

- É tudo o que eu mais faço.

- Porque tem que ser assim. Teu trem está chegando e você precisa arrumar um jeito de brigar comigo. Você queria que eu fizesse o que? Te pedisse pra ficar. Você sabe que eu não posso fazer isso. Eu não vou fazer isso. Espere isso de qualquer outra pessoa, menos de mim.

- E você espere que qualquer outra pessoa entenda isso. Menos eu. Eu estou te dizendo que eu quero ficar. Que eu não quero ir, que aqui é meu lugar.

- Pronto, acabaram as referências pop e você vai de Roberto Carlos.

- Deboche não vai amenizar.

- Eu não quero amenizar porcaria nenhuma. Você precisa entrar nesse trem e ir ganhar a porra da tua vida. A minha tá um lixo e eu não quero você aqui tentando administrar esse caos. Eu me viro, eu me cuido, eu sei o que eu tô fazendo.

- Ninguém sabe o que tá fazendo. Ninguém sabe administrar caos nenhum. Eu não tenho que ganhar nada. Eu não tenho que vencer obstáculo nenhum e eu não quero ficar pra organizar tua vida. Eu quero ficar porque quero ficar. Isso por mim basta.

- Então você é mais idiota do que eu pensava.

Distante uns 5 quilômetros, o trem já fazia a curva para chegar à estação da cidadezinha não tão pequenina do interior nem tão interiorano. A fumaça já se fazia presente, impiedosa no horizonte azulado do céu há pouco limpo. Em questão de minutos, todo o barulho das máquinas, das pessoas desembarcando e embarcando os abraçaria. Eles já não se olhavam mais. Cada um voltado para um lado da estação, da cidade, da vida. Sabiam bem o que estava prestes a acontecer.

E isso doía fundo.

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