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Feliz ano novo?: roberto feliciano

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 13 de jan. de 2020
  • 3 min de leitura



Hey, meu irmão, tudo bem?

Te escrevo pra saber como estão as coisas por aí. A quantas andam as tuas ideias de vida melhor depois que você mudou de rumo? Conseguiu muita gente boa para estar ao seu lado? Por aqui está tudo indo bem, eu acho.

É que...

Sabe você já teve a sensação de ser tão raso, mas tão raso, a ponto de ver nascer uma necessidade de parecer muito profundo e indecifrável aos olhos de todo mundo? Já te passou pela cabeça que mesmo com teus mais obstinados esforços, você não engana ninguém com esse teatro que você arma pros outros e pra você mesmo?

Já se sentiu tão preso a teus dias que parece que você está vivendo um interminável domingo e que a solução para alguma coisa girar essa roda é ir para o trabalho no dia seguinte? Já teve a sensação de que música do Fantástico te anima? Não tem jardim zoológico, nem pipoca, nem macacos. Tem teto branco, topada com o dedinho no pé da mesa e lágrima furtiva por causa de comédia romântica de quinta categoria.

Já se tocou que não dá pra esperar que te entendam se nem você mesmo se entende? Já “botou reparo” que para muita além das discussões estéreis sobre quem tem direito a dizer o que, está o seu desejo de não dizer nada? Já entendeu que todos eles, todos eles, estão lutando suas próprias batalhas e que uma cerveja gelada é só uma cerveja nem sempre tão gelada? E é foda porque parece que cada gole aumenta a ressaca, que não passa, não passa, não passa.

Já riu muito, muito mesmo, para que não percebam que aí só tem desespero? Já se desesperou e precisou absurdamente fazer os outros rirem porque sente que para, além disso, eles não precisam de nada desse pouco que você pode oferecer? Já tentou parecer inteligente e esforçado quando por dentro havia só um buraco vazio?

Já ouviu falarem “eu não presto” ou “eu não sou uma boa pessoa” e sentiu incongruência? Já sentiu ímpeto de dizer “eu não presto” ou “eu não sou uma boa pessoa”, mesmo sabendo que lá no fundo, em algum lugar da sua essência, isso não é verdade? Já chorou o choro que pra muitos (inclusive pra vários dos que te perguntarão como você está) é frescura?

Já sentiu vontade de ir embora? Sete anos no Tibet ou em qualquer merda de lugar que o valha. Já sentiu ânsia por saber que não consegue dizer não, que não consegue ponderar ou que o teu sim é tão valioso quanto um desconhecido te respondendo que horas são quando são quase meio-dia?

Já sentiu medo de lançar tuas palavras ao mundo? Por mais que você queira que te notem, talvez não queira que te notem. Afinal, o que é que tem para notar? Já olhou com uma inveja para um senhor careca no supermercado que só está em dúvida sobre qual marca de detergente levar? Já se perguntou qual o atalho errado que tomou pra não conseguir nem mesmo ser esse cara?

Já se sentiu tão desesperado que se apegou a um aspecto da sua vida que está dando certo como se fosse esse o elixir pra vida eterna, pra eterna juventude? Já cantou canções de dor como se elas fossem Hinos Nacionais para a terra devastada da tua alma?

Espero que não, meu irmão.

Espero que não!

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