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Pois é, você tinha razão: roberto feliciano

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 26 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura

Copenhagen, março de 2020 Oi, você. Antes de mais nada, quero que perdoe qualquer aroma de rancor que estas bem traçadas linhas possam levar até você. É frio em Copenhagen e o frio, apesar de sempre ter sido minha temperatura preferida, bota a gente rancoroso. Triste e rancoroso. Mais ainda um latino como eu nessas terras geladas de clima e sentimentos. Profissionalmente eu estou bem. Muito bem. De tempos em tempos me volta àquela frase dita por você na estação, quando de nossa despedida. Você dizia ter certeza sobre o meu sucesso aqui. Ora, pros diabos com as tuas certezas sobre mim! Guarde-as pra você. Ainda que você tivesse razão. Ainda que foi pensando em você e em não te decepcionar que eu tenha dado cada passo aqui. Você percebe como isso é doente? Quer dizer, claro que você percebe, porque na verdade você sempre soube. Foi você que me ensinou a não amar tanto e com tanta entrega. E eu jamais vou te perdoar por isso. Foi você que me ensinou a não esperar e nem mesmo aceitar amores tão claros ou calmos. E eu jamais vou te perdoar por isso. Foi você que instigou em mim um certo egoísmo e que era errado pensar tanto assim nos outros. E eu jamais vou te perdoar por isso. Ainda assim, obrigado. Porque sim, eu cresci aqui. Do momento em que levantamos daquela cama da casa dos teus tios para onde fugimos naquele dia de verão, passando pelas tábuas mal pregadas do chão da estação, pelo trem caindo aos pedaços, pelo ônibus, pelo aeroporto, avião, aeroporto de novo, estrada de país de primeiro mundo, pousada onde fiquei por 6 meses antes de vir pra minha própria casa, eu cresci. Evoluí profissionalmente, emocionalmente e financeiramente (grande coisa). Mas o fato é que eu cresci. E odeio o fato de você ter razão. Você dizia que tinha medo de me fazer mal, mas eu não consigo tirar da cabeça que o que você estava querendo dizer no fundo era justamente o contrário. Era um grito sobre o quanto eu te fazia mal. Também vou bem de vida social, que eu sei que você também quer saber disso. A Maria (lembra dela?) me apresentou diversos amigos e amigas. Todos simpáticos, todos empolgados por conhecer mais alguém da terra da caipirinha e do samba. Se soubessem... Ah se soubessem que o Brasil também é o país das mais doloridas dores de amor, não se empolgariam tanto assim comigo. Meu livro vai ser publicado por uma editora pequena. Deixei essa por final pra fazer aquele suspense. Gostaram do fato de publicarem uma história que se passa no Brasil. Coitados, eles ainda caem naquele papo de que somos o povo mais legal do mundo. Se eles soubessem.. Mando uma cópia, pra você ler e dar seus palpites. Também mando uma bandeirinha pra você colocar na sua mesa, olhar pra ela de vez em quando e lembrar que algum dia eu passei pela sua vida. Quem sabe se adaptarem um livro meu pro cinema ou pra TV você diga pra quem estiver ao seu lado que eu já te amei muito e que você não entendia/aceitava. A pessoa vai duvidar e achar que você só está querendo contar vantagem. Mas você não vai ligar, porque vai apenas se lembrar, sem raiva ou aborrecimento. Talvez até sorria por uma fração de segundos. Quem sabe, já pensou? Você um dia pensando em mim sem nada negativo rondando tua cabeça? Por agora vou apenas sonhando e sentindo a saudade congelar. E eu jamais vou te perdoar por isso.

1 comentário


Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
27 de abr. de 2020

Um belo e completo exemplo de um relacionamento tóxico. Mas que deu um pelo texto como fruto.

(não) Continue assim!


O. Porto-Seguro, seu fã!

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