Prezada senhora tilibra: roberto feliciano
- Cafe e outras Palavras
- 28 de jan. de 2020
- 3 min de leitura

Estou lhe escrevendo esta carta em uma quente segunda-feira (ou Mondey, ou Lunes) de Janeiro (ou January, ou Enero) de Lua Nova. Está muito calor, mas os motivos de minha missiva são outros, muito mais angustiantes.
Pois bem, comprei uma agenda com seu nome no fim de dezembro, para me preparar para o que vinha pela frente nos próximos meses. Não me custou muito, afinal era um caderninho mirradinho de capa preta e diagramação simples. Na frente, uma faixa cinza indica que estamos mesmo em 2020. E lhe afirmo que até agora está me servindo muito bem, pelo menos nos primeiros dias.
Acontece que até mesmo a senhora deve imaginar que comprar um utensílio desses, de papel, hoje em dia é démodé. Em tempos de bullet-journals e agendas.com das mais diversas, quem é que vai comprar um caderno de capa nem-tão-dura pra fazer anotações em linhas retinhas e formatação quadrada quando se tem um mundo de possibilidades para controlarmos cada passo de nossos dias, cada reunião com investidores japoneses?
Mas até aí, tudo bem.
Problema de quem, assim como eu, resolveu comprar.
O real motivo de aborrecimento é: por que colocar o calendário do ano seguinte?
Sério.
Será que vocês não entendem que esse expediente é uma forma de deixar todos nós ansiosos, ainda mais angustiados do que ficamos normalmente com as resoluções que já vamos ter que cumprir? Pra quê botar mais esse peso em nossas pobres e já tão curvadas costas?
Pois se nem bem chegamos ao Carnaval, de que me adianta saber que em 2021 ele começa nove dias antes? Será que o prazo de validade do glitter é grande? Vai que tá barato e eu resolvo estocar. Não, não! Não é assim que funciona.
Pra que jogar em nossa cara que em 2021 não haverá nenhum feriado em um domingo? Assim fica difícil evitar que aqueles que sempre reclamam da mesma coisa comecem mais cedo a dizer: "acaba logo, 2020" ou "2020 não acaba nunca". Eu mesmo estou levemente tentado a agir assim por saber que a volta ao trabalho depois do recesso será dois dias mais tarde do que foi esse ano.
Não, não!
Tá vendo só o que a senhora faz? Eu tô falando sobre dezembro quando nós nem passamos por janeiro direito.
Ninguém merece esse tipo de gente, ninguém merece ser assim. Mas agora esse comportamento está respaldado por essa conduta anti-ansiedade da senhora, que me mostrou que em 2021 meu aniversário cai em uma segunda-feira. E eu tenho que me segurar e usar de todas as técnicas que conheço de positividade pra não ficar frustrado mais de um ano e meio antes de completar 42 (eu, que mal me acostumei com os 40 ainda).
Se for por espaço sobrando, que volte a deixar umas folhinhas para telefones. Tenho certeza que caras antiquados, como eu admito ser às vezes, adorariam ter o número da pizzaria favorita, da cooperativa de táxi ou do borracheiro numa eventual emergência de bateria do celular fraca.
Isso sem contar a economia burra de deixar apenas uma página para o fim de semana inteiro. Quer dizer que eu não posso ter muitos planos para domingo porque a quantidade de linhas dedicadas a tal dia é drasticamente menor?
Mas essa é uma discussão pra outro dia, porque se eu for abordar esse tópico agora eu vou acabar querendo militar e essa crônica vai pender para um lado. E essa não é minha intenção aqui. A necessidade é urgente desse apelo atingir a todas as pessoas.
Se bem que...
"ANSIOSOS DE TODO MUNDO, UNI-VOS!"
As maravilhas do Universo cotidiano...
Só filósofos veem essas coisas.