Sonhos: roberto prado
- Cafe e outras Palavras
- 23 de jun. de 2020
- 2 min de leitura

Aluguel de sonhos.
Tenho muito espaço, e um cenário muito bacana. Tem um riacho de águas azuis e um jacaré que apareceu não sei de onde – acho que alguém o esqueceu por aqui - ele fica numa das margens e nada de um lado para outro o dia inteiro. Almoça bem, já que o rio é rico em peixes, e sendo um rio de sonho, tem, às vezes, até baleias jubarte para ele caçar.
O terreno é grande, largo e profundo, tem ar puro, grama verde e fresca, céu azul e límpido de dia e tremendamente estrelado todas as noites, exceto quando houver pesadelos, que pesadelos em noites estreladas não funcionam... Não! Para essas ocasiões temos cá, trovões, raios, tremores de terra, uivos, ganidos, correntes sendo arrastadas, gritos histéricos, gritos de terror, gritos de horror, vozes de crianças chamando chorosas, e muito mais.
Basta consultarem nossos cardápio de terrores.
Pode ser colocada qualquer fantasia, delírio, devaneio, mesmo os mais insanos e tresloucados.
Sonhe sem medo e sem limites!
Traga cá seus fetiches oníricos.
O meu fetiche onírico recorrente são pedaços de montanhas flutuantes - como icebergs de cabeça para baixo – sob uma paisagem vermelho vivo, onde pterodátilos voam aos gritos - tenebroso...
Aqui você poderá voar, literalmente. Crie asas, asas angelicais – de alvíssimas penas, asas diabólicas – de couro feito morcego. Seja um rei, um imperador, o rei do mundo, ou melhor, seja o dono do mundo, mande & desmande sem dó nem piedade. Ponha para fora aquele ditadorzinho que existe dentro de você!
Traga para cá seus desejos!
Traga aqui aquela garota linda dos tempos de escola. Sim ela que nunca percebeu a sua abjeta existência, lembra dela? – como poderia esquecê-la não é? - afinal você ainda rola na cama por ela...
Ah! Esses íncubos...
Traga para cá seu desejo mais recôndito, aquele ódio, aquela vontade de dar fim no seu chefe, no seu cunhado, em qualquer desafeto. Aqui ninguém o julgará, além de você mesmo e sua consciência – que verdade seja dita, não tem qualquer serventia ou utilidade aqui!
Sonhe sem rédeas!
Venha para cá, venha viajar, atravessar fronteiras sem passaporte, sem vistos de entradas...
Venha, venha...
Nesse terreno vasto, tudo é seu, tudo é possível, tudo é acessível, você “É” o seu limite.
Sonhe em paz, mas cuidado com o jacaré!
Rotundinho, isso passa.
Roberto Prado
Meu caro, não seis o que andas bebendo, mas por favor, não troque de marca! Eis que vejo, deste velho rabugento, surgir um chafariz de lirismo.
A sensação que ficou é muito leve...vou desfrutar...acho que fiquei no sonho...
Rose Tayra