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Visceral: roberto feliciano

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 21 de nov. de 2019
  • 2 min de leitura


Eles dizem "visceral" e eu digo "imbecil". Porque o fato, tirando toda a poesia, meu bem, é que eu não queria ser assim, tipo animal, que rosna na raiva e mostra os dentes em um esboço de sorriso quando tá tudo azul do lado de cá da história do mundo. Da trabalho ser visceral, dá medo ser assim, tão entregue e tão tela em branco para palavras que saem de mim como uma secreção qualquer. Eu sei que olhando de fora é bonito pra caralho alguém assim, mas eu só não quero que uma porra de uma música me faça chorar num filme. "ando tão à flor da pele" e tal e coisa e coisa e tal. Dá trabalho porque dá conforto e dá angústia, dá conforto e dá angústia, dá conforto e dá angústia. E o problema é que quando essa roleta quebra, é sempre na parte da angústia. E dá vontade de arremessar meus livros ao mar e dá vontade de mandar todos os que estão preocupados se preocuparem com coisas mais importantes. Porque às vezes eu só queria ser como aquele cara da música que "dá bom dia quando é de dia e boa noite quando é de noite". É sufocante ser visceral assim, enjaulado, amordaçado, acorrentado. Porque aos olhos do respeitável público desse maldito circo de aberrações que é a vida, eu sou dócil. Tão dócil quanto um maldito cachorrinho de madame. Eu não grito com ninguém, eu não soco a cara de nenhum desgraçado que queira me passar pra trás. Então, acredite quando eu digo que eu não gosto de ser visceral. Meu eu lírico, esse imbecil, talvez adore, mas eu, particularmente, acho uma ideia totalmente equivocada de como viver. Mas fazer o que se é só assim, carrinho desgovernado na montanha russa, que eu sei levar meus dias?

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