A dourada masmorra da beleza física: marcelo lemos
- Cafe e outras Palavras
- 28 de jan. de 2020
- 2 min de leitura

A beleza física é uma masmorra dourada, cravada de diamantes.
Isto fica mais claro para a mulher que, subitamente, vê o mundo a seus pés.
Tem todas as portas abertas, todos os convites desejáveis e ajudas possíveis.
Todos com ela querem estar.
Não precisa fazer força nem para flatular e quando isto acontece, vem acompanhado de esfuziantes aplausos.
Fácil acostumar-se.
Fácil também, é acreditar de seu merecimento e lugar de conquista.
Mas uma variável nesta equação lhe é ignorada. O tempo!
O seu “auge” dura seis, no máximo dez anos.
De repente, ela percebe que está começando a derreter e que ontem estava melhor que hoje.
E isto, lhe segue diariamente.
Agora, o mundo sorrateiramente já tem outra como elegida, não lembrando mais dela ou sequer de seu nome!
O que se segue é o encarceramento em vida pelo fantasma da decadência.
Uma constante tentativa de remendar o irremendável, travando a batalha que consome uma existência.
Ao contrário do senso comum, a beleza física está mais para uma maldição do que para uma benesse divina.
O “feio” ou a “feia”, cedo, percebe que terá de criar um arsenal de habilidades e aptidões para lhe dar com a sociedade e nela, suas portas abrir.
Involuntariamente, ganha massa muscular para suportar as intempéries de um mundo ingrato e que o ignora.
Cria lentamente o mundo que lhe servirá de abrigo.
O feio, com o tempo, fica feinho ou até aceitável, tornando-se belo pelo que é ou se tornou, não dependendo de como veio ao mundo.
Na figura da bruxa, o que nos choca e atemoriza, são os traços delicados de outrora, carcomidos pelo tempo, encarcerando o que já foi desejo de um mundo.
A bruxa é a princesa aos 80 anos.
Em pensar que tudo isso se deveu a um "FELIZ ANIVERSÁRIO"