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A homenagem: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 29 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Homenageávamos uma querida amiga.

Antes de continuar essa narrativa devo, a bem da verdade, dizer que uma pessoa chamou-me a atenção desde que cheguei. Uma senhora de grande circunferência e peso, que trajando um vestido cereja-incandescente atraia as pupilas desavisadas daqueles que atravessavam o umbral da vetusta igreja. Dito isso voltemos ao mote dessa crônica:

- Um ano de falecimento. Dizia eu às primeiras linhas desse texto.

A ela eram feitos discursos, comentávamos a grande falta que ela fazia. Testemunhos, demonstrações de afeto, lágrimas sinceras e depoimentos sem fim. Tudo seguia segundo o script de toda homenagem bem feita, “hasta” que chega o - (assim se apresentava o bufão) “quebrador de paradigmas!” O sem noção de costume, o empanador do brilho alheio – e põe-se vomitar dialética, politizar a falecida, esquerdificar suas posições, suas declarações, suas ações, procurei, discretamente em meio à turba que o seguia-precedia-cercava se havia bandeirolas vermelhas com foice e martelo, - não as vi, mas devem ter esquecido em algum lugar por ali, ou - deliro, sei! – planejavam para o fim uma passeata...

Apresentou-se como:

- “Adevogado” & poeta e adepto do candomblé!!

Uma voz dissonante ao fundo gritou:

- Saravá!

Suspirei fundo - e quase engasguei!

E continuando sua peroração despejou todo o tipo de estultices, lugares-comuns, uma verborreia de curar insônia crônica.

Ia começar a perpetrar um poema em homenagem à finada quando, enojado, saí da sala sentindo a triste vergonha alheia.

Estava sem tomar o meu omeprazol, logo começariam os refluxos...

Fiquei a zanzar aguardando acabar a cerimônia, pensando com meus botões que talvez a homenageada não estivesse curtindo tanto assim a tal preito.

Mas, quem sou eu para perscrutar as coisas do além? Quando sequer entendo das coisas do aquém?

Finda a celebração, fomos ao coquetel, propriamente dito, e à confraternização, pois estamos todos naquela fase da vida onde só nos encontramos agora em enterros, deixando para lá os aniversários, casamento e batizados.

Abraços daqui, abraços dali, fugindo de um ou outro, fotos e mais fotos. Estava já esquecido da chateação anterior quando, após fotografar um grupo de amigas, umas das presentes (nem tão amiga minha assim...) deu-me seu celular para que eu tirasse a mesmíssima foto do grupo...

Peguei o aparelho e logo lhe disse que ele não estava funcionando, ao que ela me responde que o dito aparelho é ruim mesmo...

Mexeu daqui, mexeu dali e me devolveu o aparelho, foquei, apertei o disparador, e devolvi-lhe o aparato.

Brava ela me responde:

- Para quem se diz fotografo, você fez uma merda de foto.

Foi nesse momento que tudo o que estava azedando-me o estomago veio à tona.

- Antes de dizer que sou um mau fotografo, compre um aparelho que preste, cale essa boca, e pelo amor de Deus, troque de roupa. Sua cereja hidrófoba!

Aliviado o estômago, parti para os salgadinhos.

Vermelho positivamente não bate com meu santo!

Há dias...

3 Comments


Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
Jul 29, 2020

Uma ópera bufa!

Roberto Prado

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cafe & outras palavras
cafe & outras palavras
Jul 29, 2020

Isso tudo daria uma ópera!

Alexandre

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cafe & outras palavras
cafe & outras palavras
Jul 29, 2020

A boca fechada preserva dentes e amizades.

Victoria

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