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A lição: marcelo lemos

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 22 de ago. de 2019
  • 2 min de leitura


Apesar de causar espanto, nunca o questionaram por uma conta que fez, afinal são 23 anos no comércio!

Ele faz todas as contas de cabeça em uma época em que as quatro operações mais parecem ensinamentos herméticos de Hermes Trimegistros, revelados apenas pelo Oráculo de Delfos, a calculadora do celular.

Quarenta e dois anos antes, em uma aula da segunda série do primeiro grau, hoje chamado fundamental, para espanto de D. Rosália, a professora, Marcelinho dispara:

- “As rosas não falam, mas dizem muitas coisas”.

- Quem escreveu isto Marcelo?

- Fui eu professora.

- Quem escreveu isto Marcelo?

Marcelo fica mudo.

- Está muito bonito, mas sei que não foi você que escreveu. O que eu mandei vocês fazerem ontem?

Silêncio!

- Eu mandei vocês criarem uma frase com a palavra rosa. VOCÊS!

-Quem fez esta frase para você Marcelo?

- Foi meu irmão, professora.

- Isto não está correto Marcelo. Tenho certeza que isto não irá mais se repetir.

- Não vai professora!

- Me traga escrito no caderno, para segunda feira, vinte vezes as tabuadas do “mais” e do “vezes”, de um a dez.

- V I N T E V E Z E S P R O F E S S O R A?

- Isso mesmo Marcelo.

À noite, Seu Lemos chega em casa e encontra Marcelinho choramingando.

- O que aconteceu meu filho?

Marcelinho conta.

- Mas está chorando por isso? A sua professora está com a razão. Se ela mandou vocês fazerem algo, não era para você pedir para seu irmão fazer. Mas isso não é um problema.

- Mas pai, tenho que fazer vinte vezes a tabuada completa!

Seu Lemos lhe responde sorrindo:

- Amanhã o pai te ajuda, está bem?

Marcelinho parando de chorar devolve meio sorriso a Seu. Lemos e diz-lhe que está bem.

No dia seguinte, sábado, logo cedo Marcelinho chama seu pai e pergunta-lhe se ele vai fazer a tabuada naquele momento. Responde que não. Então, pergunta-lhe quando fará. Seu. Lemos responde que quem fará será ele, Marcelo, que estará ali para lhe ajudar.

As lágrimas voltam a encher a piscina que se formou nos olhos de Marcelinho.

Seu pai então chamou-lhe na área e disse:

- Nossos deveres, somos nós que devemos fazer. Quando está difícil, não devemos ter vergonha de pedirmos ajuda, mas temos que cumprir com nossas obrigações.

Enquanto falava, Seu. Lemos colocava no chão da área, um retalho de encerado de caminhão, e com uma caixa de papelão que ali estava, improvisou uma mesinha. Foi na sala e pegou algumas almofadas, um copinho de cachaça e os dois se alojaram no chão.

Durante todo o sábado e manhã de domingo, os dois ali ficaram, como companheiros de uma mesma escola.

Seu Lemos, nunca soube a importância que esta lição teve na vida do menino de 8 anos.

Ensinou-lhe a mágica do companheirismo, que multiplica alegrias e divide problemas, adicionando o que cada um de nós tem de melhor, subtraído assim, nossas pequenas mesquinharias.

D. Rosália, trinta anos depois deste fato, quando encontrava algum parente, ainda perguntava pelo “Marcelinho”, se estava bem.

E eu, nunca mais esqueci a tabuada.

Obrigado Pai!

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