a profecia de vinícius - Um cafezinho com: marcelo lemos
- cafe & outras palavras
- 19 de jun. de 2019
- 1 min de leitura
Atualizado: 12 de set. de 2019

O Poetinha já dizia para não se beber leite, pois com um copo deste, nunca se faz um amigo.
Sabedoria ou apologia ao álcool, nunca soube, mas fato é, que comigo aconteceu de acordo.
Meus melhores amigos dividiram suas vidas e garrafas comigo.
O Lemos, foi um.
Ensinou-me a beber e como não beber.
Com ele, aprendi o que esperar da bebida e o que ela poderia retirar de mim!
Alegria, nunca extravaso!
Foi-me companheiro e tanto, de risadas, muitas piadas, reflexões e ensinamentos. Sempre regado com tudo... menos leite.
O Mineiro, este foi outro.
Fizemos muitas descobertas etílicas juntos.
Trocamos muitas figurinhas.
Cozinhamos muitas receitas.
Construímos e desconstruímos muitas teorias.
Muitas músicas, sons e músicos se apresentaram a nós, tendo como testemunha... uma garrafa!
Como brilhantemente sintetizou o melhor amigo de meu melhor amigo:
“O álcool nada muda,
não transforma o crápula em um Buda.
Mas se não cria nenhuma miragem,
de tudo que conheço
é a melhor maquiagem.”
Os dois partiram, deixando seus copos vazios.
Acredito ter ainda muitos litros pela frente, não sendo eu daqueles que juntam garrafas vazias.
Tenho para mim que o elo que nos unia, longe de ser a bebida, era o lúdico.
Este sim, nos fustigava, nos nutria.
A bebida não era paisagem, foto, era sim, sua moldura, seu enquadramento.
Funcionava como lente para extrair de nosso dia-a-dia o lirismo que tanto necessitávamos para hidratar nossas vidas.
Lançávamos mão do recurso de filtros para captar as cores, as quais sabíamos, que estavam lá, mas muitas vezes, se apresentavam pálidas e desbotadas pelas mesquinharias do cotidiano.
Fizemos belos retratos juntos e pretendo fazer ainda muitos mais...
É por estas e outras, que não bebo leite, mesmo porque é a bebida da onça, querendo eu distancia dela e principalmente, de seus amigos.
Esse caso levou-me a esse poema do Poetinha:
NÃO COMEREI DA ALFACE A VERDE PÉTALA
Los Angeles , 1962
Não comerei da alface a verde pétala Nem da cenoura as hóstias desbotadas Deixarei as pastagens às manadas E a quem mais aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas Talvez pouco elegantes para um poeta Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois Nem como os coelhos, roedor; nasci Omnívoro; dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati E eu morrerei, feliz, do coração De ter vivido sem comer em vão.