A pré viuvinha: roberto prado
- Cafe e outras Palavras
- 27 de abr. de 2020
- 2 min de leitura

A miserável, uma vez por mês vai ao NRH perguntar:
- Alguém muito doente? Faz tempo que não vejo fulano... Sabe se ele está doente? Internado?
Explicamos a ela que o dito fulano está de férias, viajando ao exterior. E triste ela sai da sala, de cabeça baixa, curvada, com os olhos mais cavados ainda naquela cara pálida, doentia. Ainda não será essa semana que ela segurará a mão de um moribundo. Ainda não será dessa vez que ela tentará uma pensão alimentícia.
Desgraçada, vampira.
Vive na esperança, vã, de vir a se dar bem com o golpe de segurar a mão de um morto num hospital numa noite fria e chuvosa...
Ela romanceia...
Delira...
Aspira...
Passou perto disso ano passado. Entrou na Justiça, perdeu a causa, os filhos do falecido apareceram e melaram seu golpe...
- Injustiça, ela clamava aos céus, injustiça! Eu segurei a sua mão quando morreu, a minha mão... – e chora.
Isso aumentou sua palidez, afundaram ainda mais seus olhos, seu peito magro expôs ainda mais os ossos frágeis, embranqueceram ainda mais seus cabelos...
Sempre segurando as mãos junto ao peito chupado, feito uma santinha do pau oco, ou, como um esquilo segurando a última noz da terra. Olhos brilhantes feito um farol de pura ganância. Magra como a morte.
Primeira ação do dia ao entrar na repartição é ler os obituários no D. O E., tem assinaturas de todos os jornais da região somente para ler essa seção. (nunca leu um quadrinho sequer, por se recusar a alegria de um riso, detesta felicidade).
Exploradora...
Vive de e a se lastimar.
Se posta sempre de ”a miserável vítima do destino”, a mais desgraçada criatura de Deus. Personagem principal de um dramalhão mexicano. Queixa-se da falta de sorte com os homens, queixa-se dos pais de cada uma de suas três filhas. Chora a falta de pagamento da pensão alimentícia, chora a “não-morte” dos ex-amantes, da fome sempre preste a assolar a sua casa, eu loucamente começa a desgrenhar os cabelos.
Alguns íntimos (não nesse grau de intimidade caro leitor, não, não.) sabem dela um degradante segredo, seu expediente para sobrevivência diária.
Há os que só para a difamarem, dizem, que ela se dedica a fazer programas após o expediente.
Esse cronista descrê TOTALMENTE nisso, pois embora nunca se surpreenda com a estupidez e a miséria humana (e esse cronista conhece os piores representantes dessa dita humanidade.), tudo tem um limite “vertical”, nem tanto ao alto e nem tanto para baixo...
- Mercenária! Vá trabalhar! – grito para dentro de minhas pobres tripas vitimas da bílis que esse mundinho produz em meu pobre e velho fígado. – Vá bater o cartão, vá produzir, vá carimbar papeis, vá furar papéis, arquivar papéis, vá despachar papeis, receber papeis, saia para um café na esquina e dê milho aos pombos, vá ver os carcarás caçarem esses columbinos sob esse céu azul, vá ao cais ver os navios que chegam, os que saem, respire o sal desse mar. Ou em última instância, mergulhe nesse mar e deixe-se levar...
Encontre com predadores melhores que você.
Já nem me lembro porque comecei esse texto...
Volto aos meus afazeres, e os colegas de sala surpreendem-se quando, batendo um carimbo com mais força, grito:
- Bandida!
É muito triste termos de conviver com esses tipos de parasitas sociais... Haja forças para suportá-las.
Bela radiografia na alma humana...
Essa Revista fica melhor a cada post.
Abraços do:
O. Porto-Seguro.