A véspera da histeria: roberto prado
- Cafe e outras Palavras
- 23 de abr. de 2020
- 2 min de leitura

Não que andar sem rumo pelas ruas seja ruim, não, não é - Oi Zé tudo certinho? – o chato que é ficarmos encontrando pessoas - Fala Carlinhos! – por todos os lados. Moro numa ilha – E ai tudo certinho? – e isso implica – Não estou falando com você, lembra disso ainda? Porco-obeso! – que encontramos gente demais ao longo do - Opa! Depois te ligo – dia.
Saí para o almoço – Cara você engordou hein? Não, não me fale em regime, alface e verduras. Vou encarar um filé, depois nos falamos. – e encontro todo o tipo de gente, das que eu gosto e evito às que fujo e vivo trombando.
Entro no restaurante e já vejo dois que se eu soubesse que estavam lá teria preferido pular no mar, mas - Então vocês estão frequentando aqui agora? – cumprimento-os e finjo que atendo o celular, falando, gesticulando a mão e o braço direito, discretamente deixo o recinto.
Espero que se engasguem com a comida.
Volto à rua e encaro o vento noroeste que além de despentear meus poucos cabelos, espalha lixo e areia.
Com esse calor perco o apetite e o resto do humor – uso poucos gramas por dia - resolvo voltar ao escritório e descansar com o ar-condicionado.
Venho pela sombra, procuro árvores, passo lentamente pela porta de bancos e lojas para aproveitar o ar fresco de vem de lá.
Acendo um cigarro, penso que hoje pode se o último que fumarei um paz, amanhã começará a perseguição definitiva e fanática, as ovelhas[1] repetirão em coro que “fumar faz mal” e outras palavras de ordem com que serão programadas via televisão e outras mídias.
Já ouvi falar que vai haver a delação premiada a quem entregar um fumante, pensando nisso e dou uma baforada gostosa e azul e logo noroeste a leva para longe, uma pena...
Não bastando minhas preocupações ainda mais essa! E pensar que o que me separava dos chatos era o cigarro...
[1] Leiam a Revolução dos Bichos, George Orwell.
Imagino se usasse muito.
Nesse pouco me divirto até.
Rose Tayra
Coisa estranha.... seria esse texto uma analogia aos dias de hoje?
R. Fedler