top of page

Ai Jisuis, ela está chegando! roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 25 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

Hoje 24 de novembro, a um mês daquela data.

Meu sobrinho cobrou-me mais um texto natalino onde destilo todo meu fel sobre a data máxima da cristandade, da boa-vontade, fraternidade, etc & tal Cia. Ltda.

Estou mais velho e mais inconsolável com esses festejos, esse exercício maquiavélico de hipocrisia e envenenamento hepático - não por conta das comidas e bebidas! Para evitar a intoxicação por esse último item, há alguns anos carrego comigo minhas beberagens, suspeitando sempre do que me é oferecido (quando me oferecem algo...), pois eu sei o que comprei, onde comprei e o preço que paguei*.

Sim, sim, sim, porra, estou cada ano mais antipático, mais insuportável, mais insociável.

- Agradeçam ao mundo essa evolução! Não esse pobre mundo todo, mas certos bípedes que caminham sobre ele (isso quando não rastejam...).

Continuo a caminhar pelas mesmas ruas de anos (e natais) anteriores, agora mais decadentes que antes, ruas de portas e portas e portas fechadas... Para desgosto do meu velho fígado ainda não vi nenhum Papai Noel gritando hos-ho-hos oferecendo produtos inúteis. Nenhum gordo tarado distribuindo pirulitos e balas programadas pra extrair obturações de dentes incautos.

Continuam nesse mister, não!, corrijo, con-ti-nu-a somente um labrego numa dessas gigantescas lojas de 1,99 com seu indefectível microfone aos berros a missão de anunciar produtos “sino-chineses legítimos como nota de três reais”... Ano retrasado um delinquente, de bicicleta – mas na ciclo-faixa, dentro da lei! – passou voando e roubou-lhe o dito microfone, e por uns míseros segundos senti um glorioso júbilo aquecer meu coração...

- Veja Deus, não preciso de muito!

Tudo mudando e estranhamente ficando mais igual há anos anteriores... Tudo piorando para nos dar a ilusão que tudo está melhorando. Compramos (eu não cara-pálida!) as mesmas coisas que no ano anterior, mas por um preço a cada dia mais atual (inflação!)

Abstenho-me de entrar nesses antros de consumismo inconsequente, pois sinto em meus ossos que esse ano não terei natal (em minúsculo mesmo!). Meu apartamento está em obras desde o começo desse mês:

- Trabalho de dez dias! –Declarou-me o pedreiro cheio de empáfia & alegria e um sorriso que ia de uma orelha à outra. Uma dezena de dias só no primeiro quarto! Já ando me perguntando se colocarei dois pratos a mais na mesa para a ceia. Se terei de colocar mais batatas no bacalhau, mais dois pacotes de presente sob a árvore – nisso sorrio e lembro que não tenho sala e não terei a indefectível árvore de natal, e nessa sala que não há também, não haverá também a mesa de jantar. Meu apartamento parece-se com um acampamento de retirantes...

Lonas azuis por todos os lados.

Pó branco no ar, nas paredes, nos pés, enfim, em todos os poros do corpo.

Pedreiros por todos os lados...

Lembro-me de uma noite após chegar do trabalho, já em casa o pedreiro vir me dar o relatório do andamento da obra e eu perguntar-lhe angustiado (segurando as lágrimas):

- A obra, ela acaba mesmo? – já não indago mais quando, quero saber “se”!

Ele sorri condescendente:

- Logo, logo.

Eles se vão, e à noite chove.

Pela manhã eles começam a refazer as paredes.

- Sou um Sísifo – Choramingo na certeza “cem por cento certo” de que sou incompreendido por eles.

Desligado e alheio, como um o zumbi, dirijo-me à repartição repetindo meu velho mantra, bem baixinho, como uma oração:

- Hoje chuto o primeiro Papai Noel que passar na minha frente!





*Leitores queridos, esse ano não citei um cunhado sequer!




留言


©2019 by CAFÉ E OUTRAS PALAVRAS. Proudly created with Wix.com

bottom of page