Ainda no trabalho: roberto prado

(Crônicas do Isolamento)

Vivemos dias caóticos, apocalípticos, ou como dizer os geeks, puro ragnarok.

De molho, digo, quarenta em casa, ouvindo nas rádios: Corona vírus; na TV; corona vírus; lendo nos jornais: corona vírus.

Continuo trabalhando, hoje conversando com meu diretor anunciei-lhe:

- Como o pianista do Titanic, continuarei com a música enquanto a repartição afunda, afunda não histeria, mas na malandragem onde os pilantras arrumaram todos os tipos de doenças crônicas, homens com problemas de útero, mulheres reclamando de chute no saco.

Nas crises surge o pior.

Não falha!

Sigo com minha rotina diária, trabalhando e dando chibatadas nos cretinos e medíocres, sigo sendo o déspota do RH, o cão baboso e raivoso, distribuindo lambadas às costas dos covardes, falando alto onde sussurram as sombras.

A onda agora é cumprimentarem-se com os cotovelos, quando chegam perto de mim, indago:

- Você passou álcool nos cotovelos?

A cara de paisagem dele(s) não tem preço...

Como esperando pela palavra de Deus, o “verbo” salvador do Governador, abrimos diariamente pela manhã o Diário Oficial em busca da remissão dos pecados, digo, a dispensa e fechamento da repartição.

Que não há.

Segue a rápida e desesperada (re) leitura, frustrada. Discussões e interpretações da falta de notícias. Uns acham que “de amanha” não passa. Outros acham que vem uma edição especial à tarde.

Outros clamam aos quatro ventos:

- Vamos morrer aqui dentro! Quando passar essa crise encontrarão nossos corpos comidos pelas baratas.

Eu digo:

- Vou à rua tomar um café.

A cada dia diminui o número de funcionários, os que optaram pelo home-office, a grande piada da temporada. Os que nunca trabalharam na repartição dizem que vão trabalhar em casa...

Os velhos fantasmas da repartição riem e os quadros caem das paredes.

Amanhã, mais um dia, mais uma edição do DOE, mais frustração...