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almoço: roberto prado

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 13 de set. de 2019
  • 2 min de leitura



Feliz é o Vadinho, pois com ele nada disso acontece!


Estava indo almoçar quando, de frente aos Correios um mendigo (qual é palavra politicamente correta para isso?) quase me abordou para me vender umas jujubas, diante de meu espanto, sim espanto, pois andava mergulhado em preocupações e elucubrações outras que comprar guloseimas. Com tal sobressalto ele se afastou e começou a gritar - sua boca possuía somente dois dentes - que estava feliz, não!, muito feliz, transbordante de felicidade, que estava até melhor que eu, pois trazia ele Jesus no coração.

- Mais um para assombrar minha alma já tão atormentada...

Seus gritos de insana alegria foram ficando para trás à medida que seguia o meu caminho em direção ao restaurante onde eu deveria comer minhas folhas verdes em detrimento das adoradas massas e as deliciosas sobremesas – maldita diabetes¹.

Mas foi andar uma ou duas ruas e uma pesquisadora mocinha (ruiva, olhos negros e sardas) muito simpática me pára para fazer uma pesquisa “ultrarrápida senhor”. Respondi rápido e de má-vontade, não deixei-lhe meu celular, pois como lhe disse;

- “Não vou comprar nada” - segui sem ouvir-lhe qualquer outra explicação.

Já via meu restaurante e suas alfaces quando uma mão me segura o braço, fazendo quase cair meu cigarro (velho companheiro de desditas²), e ouço a voz histérica que me diz:

- Pare de fumar! Eu consegui, faça o mesmo, esforce-se e largue do cigarro enquanto ainda é tempo. Siga meu exemplo, pare de fumar!

Olhei para o sujeito de alto a baixo, era um fulano que trabalhava no mesmo lugar que eu, um sujeito a quem me limitava a dar um bom ou um até amanhã quando o encontrava no corredor do prédio. Nunca havia trocado outra palavra sequer com ele, nunca havia lhe dado qualquer liberdade de comunicar-se comigo, como ele poderia vir falar-me assim ?

Pelo meu olhar ele deve ter desconfiado do meu desagrado, largando meu braço pediu-me para que eu pensasse no assunto com carinho e seguiu seu caminho, talvez frustrado, pois não lhe dei nenhuma esperança de vir a pensar nisso.

- A salada de hoje vai me cair amarga! – matutei com meus botões.

Antes de atravessar a praça e entrar para comer vi um pastor evangélico começar a pregar seus apocalipses e antes que ele olhasse para mim, apertei o passo para o restaurante.

E pensar que ontem choveu tanto...



¹-Àquela época eu me preocupava ainda com ela... (esse texto é antigo)

²- Sim eu fumava àquela época... (suspiro!)

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