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Caso de família: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 8 de jul. de 2020
  • 4 min de leitura

Sobrinha querida, perdemos a chance de nos ver no último aniversário de “seu sobrinho”, aquele que é filho - por hora unigênito e que não venha a se tornar “o mais velho”, oremos! - daquela sua irmã primogênita... (como estamos ficando velhos, e nossa estirpe, torna-se cada vez mais um cipó genealógico!)

Por hábito, hábito esse que só me causa problemas, chegamos à hora aprazada, ou seja, na hora. Qual não foi o meu espanto (ainda não entendo porque me espanto com isso! Será a senilidade manifestando-se? Confira para mim mais tarde.) éramos os primeiros. Primeiros adultos permita-me frisar, primeiros adultos! Pois por lá já estava “seu sobrinho” e mais uns dois fedelhos tão mal-educados quanto ele. Havia um que estava imbuído da firme intenção derrubar os portões da casa com seu (de “seu sobrinho”) skate. Rosnei para ele, mas parece que o pequeno animal não percebeu a ameaça e tentou passar com o dito skate sobe meu pé direito. Chamei a atenção de sua (a minha irmãzinha) mãe para isso, mas ela impotente, levantou os ombros, fez beicinho (charme infantil e inútil nessa idade) olhou para cima e perguntou o poderia fazer.

Respondi, mas ela me explicou que isso daria uma cadeia brava.

Inconformado, acendi um cigarro e fui em direção ao portão que o pequeno vândalo tentava com todas as suas forças pôr abaixo. Segurei a vontade de queimar-lhe um olho. A velhice está me deixando mole...

Aposto que você se pergunta se havia algo de positivo na festinha.

Sim, havia.

Uma mesa de doces e salgados que estava uma maravilha. (viu?, sei elogiar, embora evite demonstrar...)

Distingui lá, para minha eterna felicidade umas empadinhas (sou humano e tenho lá minhas fraquezas). Não pude me furtar à minha velha obsessão, e contei uma velha piada:

- “Quando for me servir delas será testemunha de um ato de canibalismo!” *

Não me causou espécie não ter sido entendido. Ainda bem que, para dar maior dramaticidade à piada, não mandei tirarem as crianças de perto.

Mas estou divagando e ainda não lhe respondi a pergunta primordial. Indagava você minha sobrinha número dois - por ordem de nascimento, só isso, não se ofenda – porque fui embora tão cedo, haja vista que parecia que eu estava me divertindo muito no natalício de “seu sobrinho”.

Eu em meus devaneios penso:

Hemodiálise me livraria desses genes que carrego? Pesquise para mim mais tarde. Houvesse aqui uma trilha sonora, seria o momento do:

- **Tchantchanraram!

Não obstante as crianças – e não declinarei aqui uma palavra sequer sobre o gosto musical da mulher de seu pai, - minha prezada irmã e sua amantíssima mãe! - encosta-se a mim enquanto fumava (sim essa cigarrilha longa que fumo às vezes me causa certos dissabores) sua Tia Célia.

Ela achegou-se a mim, como um tsunami, sem sutileza, derrubando, destruindo tudo à sua frente, mas vamos ao resumo da ópera:

1. Primeiro reclamou que a minha mãe, sua adorada avó, enviou-lhe bolinhos. Bolinhos esses que deveriam de bacalhau, mas de bacalhau não era, e sim presunto e queijo. Que eu acho o ideal para uma pessoa de tão fino paladar... E em vez dessa infeliz ficar calada, ligou para minha mãe (sua adorada avó, lembre-se disso, pois um dia ela pode vir a faltar...) e pôs-se a falar mais que o normal dela (dela sua tia Célia);

2. Sua adorada avó (você é feliz que ainda tem uma) por sua (dela) vez reclamou com o seu tio (meu irmão Mandinho lembra-se ainda dele? Sei que a há muito vocês não se veem...)

3. Ele (o seu tio Mandinho) chega em casa e quase (uma pena esse “quase”, uma pena) dá na cara dela (sua querida tia Célia).

4. Ela (a dita tia) quase ligou para a mãe de seu tio (sua avó)

5. Depois disso minha mãe, (sogra da supracitada Célia) para limpar a barra (Santa Inocência! Precisamos acender velas e queimar incenso a essa entidade!) deu de presente à mãe da Suelizinha (sua prima, filha de seu tio Mandinho, irmã daquele outro lá) um micro-ondas. - Prá quê eu quero um micro-ondas? – Ela perguntou-me! Minha vontade foi de responder a ela: - “Para você enfiar a cabeça dentro e...” Ainda bem que eu fumo ainda bem que eu fumo...

6. Ainda por cima essa filhadaputadocaralho (veja, perdi a linha, minha esmerada educação, eu que poderia ter me tornado um diplomata, perdendo as estribeiras dessa forma!) foi encher o meu saco, dizendo na frente da sua outra tia (Rutinha) que ela (Célia) nunca: (a) quis, (b) pediu, (c) sonhou ou (d) sequer desejou um micro-ondas. Pobre de meu irmão caçula... (acho que ele ainda acaba como primeira página de jornal um dia).

7. E, não obstante, ainda veio fazer fofoca, desonrando o nome de mamãe dizendo que a velha agora deu para fumar escondido.

Nesse momento, antes que eu traumatizasse as crianças (embora cada uma delas merecessem chibatadas e mais chibatadas e mais uns tantos anos numa masmorra a pão e água e, por fim, servindo de pasto aos ratos!) cometendo algum ato tresloucado que levasse a mim e não o Mandinho à primeira página de jornal resolvi comer (às escondidas, não que eu tente me enganar, nunca, mas tento enganar a diabetes) um olho de sogra e fui-me embora.

Uma vez em casa, pleno sábado à noite, pedi uma pizza e mais um fim de semana jogado fora. Sua tia (mulher daquele seu outro tio - o caçula!, o caçula veja bem! - não esse tio bom & legal você tem e que tanto te mima desde a mais tenra idade, “ah os verdes anos que não voltam mais...”) acaba com qualquer clima ou reunião de família. Isso me faz sempre recordar porque nunca fui ao casamento deles.

Cheguei em casa com vontade de rasgar as fotos do nosso álbum de família que minha mãezinha (sua doce avó de cabelinhos tão branquinhos...) que amo com extremoso amor filial me deixou de herança antecipada.

*Uma empada comendo outra empada, entenderam?

** onomatopeia não é o meu forte.

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