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Conversa de bar e suas implicações: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 20 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

Na terceira mesa à esquerda de quem entra no bar do portuga, num canto sujo e infecto, sob uma lâmpada de quarenta watts, seis amigos, já altos, conversam, riem alto e bebem outra rodada de chope.

A peroração continua, até que de repente Zé Carlos, o fuinha, batendo a mão com força na mesa a ponto de jogar os amendoins ao chão grita com fúria nunca vista antes:

- Pelo menos eu não sou corno!

O silêncio cai sobre a mesa fazendo mais estrago que um contêiner sobre um fusca. Todos se olham, baixam a cabeça e deixando os copos cheios, as rodelas de linguiça com cebola e os amendoins no chão. Lentamente, colocam as mãos nos bolsos, tiram de lá uns trocados que deixam sobre a mesa e vão-se. Nunca mais se encontram.

Ou.

Todos se olham, dois pegam o Fuinha pelo colarinho e começam a sacudi-lo, Andrezinho, cobre o rosto com as mãos calejadas e começa a soluçar, num segundo pula sobre Fuinha e ameaça cortar sua garganta com uma tulipa de chope. Os outros dois que estavam ao seu lado ficam espantados com:

1. A violência de Andrezinho, e

2. Saber que ele é corno.

- Logo o Andrezinho o mais bacana de todos ali na mesa, que injustiça!

Os fregueses acorrem para apartar a briga, os garçons correm para cobrar a conta e o português puxa o bigode preocupado com os prejuízos.

O pau corre solto.

Após a briga nunca mais se falam, e dias depois leem no jornal que Andrezinho foi preso por agressão, mas a mulher passa bem no hospital.

Ou.

Entra o pessoal do “deixa disso”, pedem outra rodada de chope e mais amendoim salgado. Fuinha, explica que não sabe o que deu nele para falar uma coisa dessas, bebe três tulipas de chope de uma só vez, engasga tosse e começa a chorar. Todos se olham sem graça.

- Será que ele é o corno? - Perguntam-se.

O garçom chega com os amendoins e quebra o gelo.

No balcão toca o telefone que o português atende com rápida presteza. Ele grita:

- Telefone “prú” Fuinha, ó Fuinha! É a Dona Emília.

Os amigos param de beber e com os copos a meio caminho entre a mesa e a boca, se perguntam:

- Quem é dona Emília?

Fuinha, calmamente acaba seu chopinho, enche a mão com os amendoins e levanta-se para ir balcão atender ao telefone.

O garçom traz outra rodada de chope.

A noite vai ser longa para explicar essa história...

Ou.

1 Comment


Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
May 21, 2020

“Pelo menos não sou corno.

O silêncio cai sobre a mesa fazendo mais estrago que um contêiner sobre um fusca”

Já presenciei uma conversa dessa numa mesa.

É bem essa a sensação.


Rose Tayra

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