Do espetáculo, do maravilhoso e dos milagres, um cafezinho com: marcelo lemos.
- cafe & outras palavras
- 2 de jul. de 2019
- 2 min de leitura

Foi com muito pesar que assisti em certa época, a deserção das fileiras das religiões de matriz africana, principalmente da Umbanda, para as recém-emergentes, Igrejas Neo-Pentecostais. Pesar, por enxergar toda riqueza arquetípica e simbólica destas culturas religiosas em detrimento ao simplismo religioso neo-pentecostal. Passado os anos, comecei a enxergar como saudável todo este processo, entendendo como uma natural decantação.
Em consultórios pediátricos as atendentes davam pirulitos para as crianças, para que os médicos as examinassem e cuidassem de sua saúde. Toda religião tem, sem exceção, seu pirulito, no dialeto de um amigo, “seu chamarisco”, o qual tem a função de atrair o indivíduo para uma proposta maior. Pois bem, o chamarisco, das religiões é o espetacular, o oracular o divinatório, o milagre, sendo seu o objetivo máximo, a excelência humana. O neófito, atraído pelo espetacular, aos poucos vai se dando conta de uma coisa maior que o seu mundo - o ser. Nesta aparente encruzilhada iniciática, na qual se encontra tocando Robert Johnson acompanhado do cramulhão na gaita, muitos pegam o retorno, acreditando que este, é continuação desta estrada.
O que o corre é que nenhuma religião ou filosofia, consegue rivalizar com as NP e com seu divino sistema de carta de crédito. É uma verdadeira fábrica de pirulitos. Esta infantilização da fé vem criando verdadeiros exércitos seguidores do Grande Pirulito, os quais execram e combatem qualquer um que almeje mais que sua açucarada filosofia possa conceber.
A triste noticia é que nos últimos tempos esta movimentação vem tomando ares de fundamentalismo. Em Nova Iguaçu - RJ, em um mês, dezessete templos de Umbanda e Candomblé foram atacados e destruídos por “traficantes neo pentecostais”. Este tipo de ato não é novo no Rio, tendo em alguns morros da cidade, grupos de traficantes que se auto intitulam soldados de Cristo, os quais combatem e perseguem seguidores das culturas afro religiosas.
Paradoxalmente, nos encontramos em uma situação que o maravilhoso se opõe e até se torna impeditivo para o Divino. A infantilização do discurso religioso cerceia o neófito de conhecer a verdadeira dimensão do fantástico, do maravilhoso, o milagre da criação, O OUTRO.
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