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Espremendo o nada: Alice Bispo

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 10 de fev. de 2020
  • 2 min de leitura

Eu me lembro bem dos rituais.

Ainda faço alguns. Eu pegava meu computador, clicava algumas vezes, ajustava tamanhos, fontes, posições, colocava a música, aumentava o volume a uma distância de ter problemas futuros com minha audição e só depois, bem depois, escrevia. Isso tudo, sempre, preparava o meu cérebro para a "hora de escrever".

Era o momento que eu sabia que teria que controlar a ansiedade de acabar com a agonia de ser tão crítica com as palavras. Era o momento de pensar um pouquinho a mais, lembrar de regras, de acomodações e me orgulhar com as mesmas intenções e palavras, sempre ditas de formas diferentes. Eu me irritava, chorava, ria, escondia mais uma vez, apagava, saía, lia... Numa eterna constante de desapegos e fragilidades.

O meu medo era de sempre parecer muito nova, muito velha, muito criativa, muito igual, muito tudo. E desse medo de tanta coisa, me tornava nada. A desistência me parecia mais agradável de suportar do que o esforço por ser eu mesma...

Eu espero que ouçam, ou que leiam, mas também espero que eu me ouça, que eu me leia, que me satisfaça e que me orgulhe. Porque estão todos tão preocupados, tão ansiosos, tão cansados, mas tão dispostos. Todos julgando, trabalhando, mas ninguém vivendo.

E eu não fujo disso.

Porque sempre tentei ser outra. E hoje me arrependo de ter escondido sempre o que pensava.

Me arrependo de não ter iniciado frases com pronomes. Me arrependo de querer parecer ser alguma coisa que não sou. De me culpar por minhas linhas serem tão curtas e meus pensamentos tão densos.

Me tornei alguém pesada. Alguém que se justifica. Me tornei aquela história chata, sem final e sem ninguém que leia.

Mas eu ainda estou aqui.

Ainda faço meus rituais.

Ainda é um peso escrever.

Ainda penso muito antes de fazer, ainda aquele sentimento de querer aprender.

A tudo.

Aprender até o nada.

E desse nada espremer só mais um pouquinho...

Vai que sai alguma coisa.

2件のコメント


cafe & outras palavras
cafe & outras palavras
2020年2月22日

nihil est / fiat lux

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rpjbarbosa
2020年2月10日

Pqp.

Escrever é isso mesmo, é assim mesmo, dói desse jeito mesmo...

Como disse Patti Smith, “por que escrevo? porque não nos podemos limitar a viver!”.

Vá em frente enfrente!

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