Fé : alice bispo
- Cafe e outras Palavras
- 17 de mai. de 2019
- 3 min de leitura
Hoje mais cedo, há uns vinte minutos atrás, estava em uma briga de palavras. A oponente em questão - você já sabe que era uma mulher - era a minha mãe. Naquela tão calorosa discussão acerca da existência de deus e que ele é detentor de todos os destinos, as tristezas, as alegrias e que, por isso, ele deve veneração e compromentimento de consciência completos do ser humano, ela ficou impaciente e jogou baixo, como dizem.
Mas tudo bem, pois é o que acontece na maioria das vezes, não todas. Então, resolvi pegar esse pequeno acontecimento como uma parte do todo da dúvida. Percebi que a dúvida é perigosa onde vivo (num bairro subalterno e cheio de casinhas com cheiro de café caseiro). Não só aqui, mas também no ambiente religioso e, pelo Brasil ser essencialmente religioso, é também perigoso esboçar qualquer opinião que vá contra a grande e esmagadora maré cristã.
Algumas pessoas entram em colapso consigo mesmas em apenas imaginar a ideia de se confrontar com deus, o "criador". Outras, apenas agem com indiferença e acreditam onde e quando é possível acreditar, a famosa fé pela fé. E eu fiquei no meio da fé pela fé e da fé absoluta e abridora de caminhos.
Quando você não assume postura qualquer, é tido como fraco, indeciso... doente, talvez. Mas é bom não tomar partido de nada, ser a folha que vai onde pensa que vai. Outros acham que é ruim, você sabe. "Assim você não estabelece um foco na sua vida". Tudo bem, é verdade, não tenho foco na vida. Não mesmo. Tenho foco na minha felicidade, a vida é uma questão de respiração, a morte é a falta dela. Atribuir tons de melancolia e romantismo é do ser humano.
Prefiro acreditar no que faz sentido. Acreditar em não acreditar em nada já faz algum sentido. Mas aí é que mora a grande questão da dúvida. Você transformar a sua dúvida em doutrina e estabelecer que todas as outras doutrinas são falsas, resumindo, ser um cuzão.
"A que ponto você quer chegar, afinal?" Sabe, é uma pergunta interessante. Eu sempre tratei as respostas com mais zelo que as perguntas, achava sinônimo de inteligência as respostas. Mas, na verdade relativa da vida, não. A minha resposta encontrada era submissa de um filtro diferente da do outro coleguinha e, por isso, sofria diretamente com a minha visão de mundo. O que quero entender e deixar você perguntando é: se a minha verdade é passiva do meu filtro, da minha consciência, do meu intelecto e da minha indagação, como posso estabelecer que ela é uma verdade?
Então, existem verdades e verdades. De muitas idades, pesos, cabelos, corpos, identidades, enfim. A verdade é estabelecida por cada um e deve ser seguida da mesma forma, por cada um. Questões como a apresentada, se deus é realmente o criador, devem ficar unicamente no âmbito do ser. Do confortável. A igreja fez verdades de diferentes filtros e estabeleceu como via única do conhecimento divino. Isso escravizou as outras verdades e pôs vendas ilusórias em todo o tipo de gente. Em todo tipo de época, em todo tipo de visão.
A doutrina exerce o poder do norte a ser cumprido. E, quando não, deve ter uma postura rígida e exclusiva contra todos que se opõem. É um fato. Complexo, pois abrange vários campos e, nesse texto, quero deixar o que sei e no que ando pensando.
"Mas, qual é o SEU ponto, afinal?" Se fosse para apresentar uma resposta, nem iniciaria esse texto. O que me encanta em questionar, é justamente não saber, porque senão, obviamente, estaria plena e satisfeita com toda minha sabedoria e conhecimento. Mas não estou. Estou cansada, estou incompleta.
Muitos parariam aí e ficariam satisfeitos em saber que, por não acreditar em verdade absoluta, estaria vazia de deus e precisando de tratamento teológico. Mas é justamnete por estar vazia que quero ser preenchida com vários tipos de líquidos e de verdades.
"Tudo bem, mas qual é a porra da finalidade desse texto?" Sinceramente, novamente, não sei. Por um lado me sinto massacrada de ideias de diferentes épocas e por outro sinto o prazer da busca sendo, finalmente, exercido por mim. Encontrar o que estou procurando nunca vai ser possível, mas achar caminhos alternativos é meu norte.
A minha questão é a questão que faz todo mundo ficar meio irritado por não saber ao certo, não saber se o que sabe é realmente verdade. Apenas ir seguindo na segurança tão absurdamente incompleta, quanto unicamente conformista e ditadora. A verdade religiosa do cristianismo ainda é uma verdade, dentre tantas outras. Mas uma coisa que a gente nunca vai saber é ser completo na dúvida, incompleto na crença, tolerante na igreja e amante, com todo o coração e alma, do próximo.
Mas..., tudo bem. Pelo menos ainda temos uma coisa em comum: a humanidade.

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