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Invisíveis - Um cafezinho com marcelo lemos

  • Foto do escritor: cafe & outras palavras
    cafe & outras palavras
  • 24 de jun. de 2019
  • 2 min de leitura

Atualizado: 12 de set. de 2019


A sessão já iria começar. Na ampla sala branca, finamente decorada com mobília provençal de imbuia maciça, chamavam a atenção, mesmo apagados, os dois lustres de cristais em gotas pendentes, cabendo a iluminação naquele momento, à apenas três luminárias de Petit bronze com opalina âmbar, que encontravam-se distribuídas nos cantos do cômodo. Na mesa redonda, onde todos já estavam sentados, professor Rodolfo toma a palavra.

– Sabemos que está aí. Deseja se apresentar?

O que desejas desta família?

Sim, muito bem. Entendi. Entendi.

Todos à volta acompanhavam a sessão com um misto de espanto, medo e ceticismo, porém prof. Rodolfo era figura renomada e experiente neste tipo de comunicação. Mas como acreditar? Ninguém ouvia nada além de ruídos ininteligíveis, reticentes estáticas.

A sessão continua:

- Há quanto tempo está aqui?

Correto. Isto é verdade?

Mas porque não diz você mesmo a eles?

Você sabe o que precisa fazer, não sabe?

Entendo, mas não podes continuar assim.

Numa cena de filme cyber punk, os participantes têm suas faces iluminadas por uma luz branca, que nasce abaixo da mesa, vinda de seus celulares. Todos se entreolham e trocam mensagens. Seria o professor um charlatão? Mas diz-se dele, que resolveu tantos casos como este! Porém, única coisa que veem é aquele senhor de barbas grisalhas e jaleco branco, falando sozinho.

Com a intenção de ajudar, Lúcia compartilhou uma oração com todos, o que foi imediatamente respondido com imagens de coraçõezinhos, mãos juntas, carinhas sorrindo e bonequinhos com aureolas. Renato, posta uma imagem do Sagrado Coração. Todos se comovem e respondem com emotions pertinentes.

A conversa “imaginária” de Rodolfo continua, porém, não há como os familiares acompanharem. Foi assim em todas as seções. Esta, já era a terceira. Exausto, o dirigente da seção se dá por vencido. Já está convicto da identidade da personalidade, mas esta, relutante, não dava condições da comunicação evoluir.

Neste momento, o professor Rodolfo, já atrasado para outra aula particular de informática, manda uma mensagem para os quatro irmãos.

- Infelizmente, neste caso não há no que eu possa ajudar. Sr. Carlos, pai de vocês, diz que não abrirá contas no Whats, no Face e nem no Instagran.

Disse-me que, por insistência de vocês, há tempos, abriu conta no Gmail e que vocês, não se comunicam com ele mesmo assim. Falou-me também, que se desejam falar com ele, tem que ser a moda antiga, olho no olho, cara à cara, sem ecrã, e a propósito, diz ter ouvido o comentário que Lúcia fez esta semana, no qual ele deveria parar de assombrar esta casa e daqui partir. A este respeito, avisou que a casa é dele e é ele quem paga as contas. Caso não estejam satisfeitos, que arrumem outra alma para sugar! Sinto muito.

Professor Rodolfo despediu-se na mensagem com emotion de um coração partido e saiu pela porta da frente, que com seu sininho de tubos, encheu de som o ambiente.

Lúcia, Felipe, Carlos e Renato, frustrados, sentiram-se solidarizados com a postagem deste último, que colocou em tamanho grande, o emotion de o Grito, de Edvard Munch.

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