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Jeremias: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 2 de out. de 2019
  • 2 min de leitura


Dezenove horas, está escuro e Jeremias, encostado no muro de sua casa mira o mar, que por já estar perto do inverno, está bravo. O barulho das ondas enche o ar, e o gosto do sal chega à sua boca. Jeremias fuma, e solta uma longa baforada azul, deixando uma névoa bem particular à sua volta.

Estrelas brilham no céu azul e frio, alguns vaga-lumes renitentes ainda voam tontamente, talvez se despedindo uns dos outros e comprometendo-se a se verem no próximo verão, ri e pensa Jeremias envolto em uma nova baforada.

De repente Jeremias fixa o olhar lá longe no mar (o que vê Jeremias?).

Ele coça a cabeça, pigarreia, dá outra baforada e força ainda mais o olhar, tentando ver a forma ainda sem definição no mar.

Ele pensa ser uma gaivota perdida de seu bando, - o som não é de gaivota – diz para si mesmo Jeremias.

Jeremias ri com esse jeito de falar consigo mesmo...

Enquanto pensa nisso, Jeremias dá mais uma baforada, longa, bem longa e solta a fumaça lentamente, e outra névoa levemente azulada se forma ao seu lado.

Uma mancha branca aproxima-se dele voando, e como um raio, raspa-lhe a cabeça e quase lhe arranca as tranças rastafári e grita:

- Abunda-me de ti, ó Senhor!

Jeremias, assustado sente a terra tremer sob seus pés descalços, ao olhar para cima procurando pela gaivota ele vê as estrelas tremeluzirem e começarem a se apagar, os vaga-lumes como num arco-íris em espiral sobem para o breu celeste e desaparecem também, aterrorizado com toda essa escuridão, Jeremias expira toda a fumaça de seu peito, joga fora o seu cigarro e pensa enquanto é envolvido pela azulada névoa:

- Preciso parar de fumar essa droga! - jogando o cigarrinho fora ele corre para a praia.

Entra n’água até a altura dos joelhos, olha para trás assustado procurando pela ave e mergulha. Enquanto o corpo afundava n’água ainda ouve a gaivota gritar outra vez:

- Abunda-me de ti, ó Senhor! – e dava outra rasante desenhando um risco n’água à procura de Jeremias.

Jeremias ficou no mar até o amanhecer quando o bando de gaivotas voltou com seus gritos anárquicos e estridentes, mergulhando no mar a procura de peixes, abafando assim os gritos da gaivota catequista que voando em círculos, ainda gritava:

- Abunda-me de ti, ó Senhor!

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