Jolie - Uma pequena história sobre “O café”: marcelo lemos

Sendo uma das primeiras casas a trabalhar com café expresso em nossa cidade, tínhamos quase que semanalmente, visita de vendedores oferecendo “o melhor grão para café expresso”.

Estava se tornado maçante, praticamente toda a semana testar um café novo, pois esta operação implicava em esvaziar e lavar o moinho de café e seu reservatório de pó, operação esta, demorada e trabalhosa a ponto de eu não aceitar mais experimentar cafés novos.

Na época trabalhávamos com um café de excelente qualidade o qual há pouco, havia sido vendido para uma multinacional e teve de imediato, sua qualidade diminuída, mas mesmo assim, continuando ser um ótimo café.

Certo dia um conhecido veio até mim, dizendo que agora estava vendendo café e era “o café”.

Trouxe-me de amostra um saco plástico com os grãos, dizendo que a empresa acabara de abrir e que não estavam prontas as embalagens ainda, mas que o café era excepcional, blá- blá-blá-bla-bla-blá...

Para me livrar cordialmente dele, permiti que deixasse o café.

Passado uma semana, visitou-me e eu ainda não o havia provado. Dei-lhe minhas desculpas e foi embora.

Em sua terceira visita, não tive mais o que lhe falar.

Lavei e sequei o moinho e esvaziei o reservatório de pó.

Moí os grãos e fiz dois cafés. Estavam excelentes.

Pensei - Ainda ficou resíduo do café anterior. Limpei novamente o moinho e tirei mais dois cafés.

Ficou melhor. Limpei de novo. EXCEPCIONAL!

Não acreditei.

Em um saco plástico transparente encontrava-se o melhor café que já havia provado.

Falei então para este meu conhecido, que aceitaria trabalhar com o café dele na padaria, mas que precisaria negociar o que a empresa dele investiria na casa, face todo o investimento próprio que já havíamos feito inclusive a própria máquina de café italiana, que na época, foi o preço de um carro zero.

Ficou de trazer o proprietário da empresa para conversarmos.

Chegando o dia, veio ele e Eduardo o proprietário da empresa.

Sentamos nós três mais um amigo que no momento estava na padaria, o indefectível Henrique.

Se seguiu uma queda de braços em que, eu pedia investimentos na casa em troca da introdução e fidelidade com sua marca e Eduardo se esquivando de forma simples e humilde, explicando que a única coisa com que poderia se comprometer, seria a qualidade de seu café, pois era um empresa pequena, recém inaugurada.

Uma hora depois falei: - Bem, chega! Sei que não nos darás nada e não vejo outro jeito, vamos ter que trabalhar com teu café, pois é o melhor que eu já provei, então, vamos tomar uma cerveja?

Esta história se passou há 16 anos. Na época, não ganhamos nenhum investimento na casa, mas, muito mais que isso, ganhamos um grande amigo - o Eduardo Farah e tivemos o privilégio de ver nascer uma das mais belas empresas do setor, com a qual nos orgulhamos de ser parceiros.