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Me tira desse lugar: roberto prado

  • Foto do escritor: Cafe e outras Palavras
    Cafe e outras Palavras
  • 5 de mai. de 2020
  • 2 min de leitura

Domingo à tarde.

Passava com meu carro por uma rua dessas do subúrbio, sujas, esburacadas, com valas a céu aberto, quando vi um jovem casal namorando. Estavam sentados em um banco de praça, sim namoravam em um banco de praça, como acontece desde que o mundo é mundo e desde que existem bancos em praças.

Pela janela do carro, numa fração de segundo, vi que o casal estava abraçado, o rapaz, moleque novo, olhava para o nada lá longe e a mocinha ainda mais jovem de cabelos longos, cabisbaixa e triste, com a ponta do sapato cutucava o chão de terra suja procurava algo, talvez um buraco para se enfiar e lá se esconder para todo o sempre.

Quando vi a triste cena, comecei a imaginar uma conclusão para essa história:

A menina está triste, ela quer ir embora desse lugar, desse fim de mundo que é o subúrbio onde mora.

Ela pede ao namorado:

-Me leva daqui, me tira desse lugar, me roube da casa de meus pais e mas leve daqui! – Começa a soluçar e chorar baixinho, enxugando as lágrimas nos sedosos e negros cabelos.

Ela não tem outro sonho que não seja o de sumir dali, não quer ser modelo/atriz, não quer casar com jogador de futebol ou cantor de pagode, ela sair daquela periferia do inferno.

E o rapaz penso eu, tenta fazê-la entender, explica-lhe que com o que ganha no emprego de ajudante no supermercado, com segundo grau incompleto, não pode nem se sustentar, quanto mais sustentar a eles dois, e um filho...

Acho que cheguei tarde e quando os vi, talvez estivessem dado um fim ao namoro, aos sonhos as ilusões, por isso ele olhava para o nada e ela para o chão, e cavasse discretamente o túmulo de seus devaneios...

No olhar desolado dos dois eu parecia ler uma placa dizendo:

Não há futuro no subúrbio! (com ponto de exclamação mesmo)

Mas posso estar somente divagando, afinal passei voando pelo casalzinho a cento e vinte quilômetros por hora. Talvez estivessem só decidindo onde passar o resto do domingo, se num shopping aproveitando o ar-condicionado ou passeando de mãos dadas pela praia dando milho aos pombos.

Sei lá o que decidiram, mas eu preciso parar de divagar desse jeito...

2 Comments


Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
May 05, 2020

Pobres jovens sem porvir...

Uma perda, uma pena.


R. Fedler

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Cafe e outras Palavras
Cafe e outras Palavras
May 05, 2020

Sub Urbe, sub humanos. sub vida de merda.

Sublime sua crônica.

O. Porto-Seguro

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