O café: roberto prado
- cafe & outras palavras
- 13 de ago. de 2019
- 2 min de leitura

Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar.
- Millôr Fernandes
- O negócio começou muito mal, olha a barata correndo aqui debaixo da mesa, rápido ela está indo para a mesa perto da parede!
- Ela saiu da caixa da geladeira...
- Só podia ser de lá!
Complicado o diálogo? Vamos começar do começo.
Como já citei anteriormente, após o almoço, diariamente, vamos tomar um cafezinho. Antes éramos assíduos da Bolsa Oficial do Café de Santos, nome pomposo, mas o atendimento, os frequentadores, o preço, e por fim, não abrir às segundas-feiras foi a gota d’água para nos mudarmos de uma vez de lá.
E descobrimos esse novo, de onde vem essa história de hoje.
Desde a primeira vez que lá entramos, nos “entocamos” numa mesa de dois lugares atrás do caixa. Lugar muito aprazível, pois não éramos vistos por nenhuma pessoa, o que era de grande ajuda para nós, pseudos-cronistas de mundanidades. Um ponto estratégico para estudar a humanidade. Ah!, esse nosso empenho em compreender o próximo...
O café é de bom preço, atendimento, até agora, sem reclamações. Éramos muitos felizes em nosso domicílio, éramos.
Mas o lugar acabou por ficar muito frequentado e com fregueses exigentes, tão exigentes que passaram a demandar por outras marcas de cervejas.
Pausa!
O leitor deve ter se assombrado pois falei até agora em café, e passo para fregueses reclamando de cervejas! Pois lá é também um restaurante, espaço grande, mas exploramos somente a cafeteria, tudo o mais nos é desimportante.
Voltemos, pois ao drama inicial.
Para atender a sua seleta clientela (entra aqui um ranço de amarga ironia) ele nos informou que teria que sacrificar nosso “cantinho” para instalar ali, bem ali, naquele espaço sacrossanto de nosso cafezinho cotidiano, a bendita geladeira.
- Mas ainda vai demorar uns dias. – falou de forma a nos confortar.
Mas não tardou muito e o dia chegou, e o dia foi hoje.
Já estávamos sentados, quando o gerente chegou e nos disse:
- Ela chegou! – Disse isso e juntando ação às palavras começou a levar nossas xícaras para outra mesa no extremo oposto do salão.
E lá sentados, tristes, vimos a caixote que trazia a tal da geladeira. Exemplar antigo, com puxador, modelo anos sessenta, numa cor entre bege e o amarelo, desbotada, feia e antipática.
Três pessoas para carregá-la e depositá-la.
Na mesa, quase escrevo “canto”, ficamos observando a operação de desencaixotamento do refrigerador e foi quando, para nossa malsã alegria, vimos aquele ortóptero supracitado sair do meio das madeiras e correr entre as mesas.
- Tá vendo? – disse eu com uma placidez invejável – Se tivessem nos deixado quietinhos em nosso canto isso não teria acontecido...
Mas essa é a minha versão do caso, deixo que o Sr. Costa, relate, um dia, o seu ponto de vista.
Muito embora, não haja ponto de vista que devolva a nossa velha mesinha abrigada atrás do caixa e que nos dava uma visão privilegiada das mulheres que subiam as escadas para se servirem no bufe do primeiro andar ...
É meu ídolo tem razão, a vida não presta!
Em tempo, quase que intitulei esse texto de “A BARATA E O CAFÉ”, mas pensando bem, ficaria alguma coisa entre kafkiano e repugnante e conhecendo bem o Magrão, ele iria reclamar disso também.
Em tempo², achei por bem não declinar, em nome bom gosto, a cafeteria.
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