O cara novo do escritório: roberto prado
- Cafe e outras Palavras
- 8 de out. de 2020
- 2 min de leitura

Quando ele chegou pisando leve, parecia um gato equilibrando-se em cima de um muro, pé ante pé, gingava como quem se equilibra num barco em mar agitado, a cabeça erguida como que procura aviões no céu, o queixo empinado, parecia que estava apontando alguma coisa.
Alguém perguntou baixinho:
- Esse coitado tem problemas de lordose?
Olhou para todos dentro da sala como um ator olha para a sua plateia, esperou uns segundos e disse quase melodramático:
- Bom dia gente. – acho que por pouco ele se agachava para receber os aplausos.
Ninguém respondeu.
Sentou-se na cadeira com as pernas bem juntas, costas eretas, e as mãos sobre os joelhos, de vez em quando olhava para os lados, girando só o pescoço e tornava a erguer a cabeça e empinar o queixo.
De vez em quando ria.
- He he he he.
Dava opinião sobre tudo, mas tendo sempre o cuidado de, com a mão no peito sobre o coração, arvorar-se como a pessoa mais humilde do mundo.
- Mamãe me educou para sempre dizer a verdade, é só por isso que vou me meter nessa conversa, tá bom?
E dava sua opinião abalizada e terminava com a aquela risada:
- He he he he...
Voltava à sua mesa, e sentado com os joelhos juntinhos, costas eretas, passava creme hidratante na mão e arrumava os cabelos, empurrando-os para trás.
Sempre que ele saía da sala sabíamos que estava ido paparicar a chefia, e com que prazer trazia serviço para nós...
- Olha o Dr. Fulano mandou você fazer isso agora que depois EU levo de volta à sala dele, viu?
Eu olhava para cima e pedia paciência aos santos e anjos. Assim era o seu dia, rindo feito idiota e bajulando a chefia, até que um dia...
Estava em minha mesa trabalhando, alheio a tudo e principalmente a todos, quando ele, me chama, e colocando as mãos sobre os joelhos olha para mim e levantando-se vem em minha direção, com aqueles passinhos de chinesas, chega à minha mesa, põe as mãos - de unhas polidas e perfeitamente aparadas - sobre ela e olhando para os lados para ter certeza que ninguém nos ouvia, começou a falar assim:
- Acho que você já percebeu uma coisa em mim, não é?
Pensei assustado com meus botões, “ele vai dizer que é gay, ele vai dizer que é gay”, mas qual não foi a minha surpresa quando, para meu total assombro, declara:
- Eu sou evangélico sabe? – Empinado o queixo, continuou - Isso te incomoda?
Só tive ânimo de dizer, após um mal disfarçado suspiro de alívio – Sim – balbucio - mas pode continuar professando a sua fé, desde que não venha tentar me converter!
E deixando-o pendurado ainda em minha mesa, saio correndo da sala e vou para o banheiro pensando ouvir aquela risadinha safada:
- He he he he
Como diria um amigo:......Figura!!
Rose Tayra