O certo, o melhor e a coerência: marcelo lemos
- Cafe e outras Palavras
- 17 de fev. de 2020
- 2 min de leitura

Nasci e cresci em uma ilha.
Meu mundo era pequeno e cercado de água por todos os lados.
Aconchegante e confortável, este grande útero funcionou bem por muito tempo, até que de lá precisei sair.
Desorientado. Assim fiquei por muito tempo. E quando falo desorientado, não é só metaforicamente. Geograficamente, também.
Demorou até que entendesse o porquê.
Como de um útero, quem sai de uma ilha, tem somente uma saída, sendo que o mundo fica a direita ou a esquerda de uma estrada.
Já morando no interior, descobri que o mundo está por todos os lados, em toda a sua volta.
Você pode ir para qualquer lugar, por qualquer caminho, tendo como conveniência seus critérios: o mais curto, o mais aprazível, o de melhor pavimento, etc.
Esta constatação que - dirão meus detratores - é elementar para qualquer criança isenta de problemas cognitivos, me ficou clara somente no início da vida adulta, tanto geo-referencialmente, como no livre-pensar.
Sendo isto para mim, tijolinho já assentado em meu alicerce, certa vez, discutindo planos econômicos, com uma amiga com análise de viés político-partidário, sobre medidas adotadas por um governo ideologicamente contrário ao dela, disparei: - Não há plano econômico certo e sim, plano economicamente coerente. Não importa o caminho que resolva escolher, mas sim a coerência das ações que adota, com este. A resposta que obtive foi:
- É os analistas dizem sempre isto!
Assunto encerrado.
Estando em visita de minha mãe e constatando diariamente, o quanto somos (os filhos) emocionalmente infantis em comparação a sua maturidade emocional, qual seria o melhor caminho: Viver, ignorando nossa finitude (como ela, aos 83 anos e ao que parece, longe de necessitar troca de bateria) ou lidar com a existência como tendo, de concreto, somente o agora.
Qual o caminho certo? O que é o melhor? Mais uma vez, cheguei a conclusão que melhor e certo, aqui, não se aplicam. Diante da complexidade existencial e da pluralidade de personalidades e entendimentos, a chave é viver com coerência com aquilo que se acredita.
Seu texto está redondinho e, lembre-se, nasci do outro lado dessa ilha!
Abraços.